LIVROS 5 ESTRELAS - V
A REALIDADE EXTREMA
Fahrenheit 451, para além de ser a temperatura a que um livro se inflama e consome é também o título de uma das mais aclamadas narrativas de ficção científica de sempre, criada em 1953 por RAY BRADBURY... Num futuro hipertecnológico que já não estará muito distante da realidade do panorama actual, a civilização humana é subjugada por um regime totalitário que, para garantir a felicidade e a verdade aos seus súbditos, proíbe liminarmente a posse e a leitura de qualquer tipo de livros, prendendo aqueles que ainda os têm escondidos e aqueles que ainda os lêem e queimando as suas casas e as suas bibliotecas, tarefa purificadora levada a cabo a 233 graus Celsius pela Vigília do Fogo, um corpo especial de bombeiros que mais não são do que queimadores de livros e que em vez de apagarem incêndios antes os ateiam!... O principal desígnio do regime é a erradicação dos livros da face da Terra como forma de evitar a subversão à ordem instituída mas, como em todos os muros aparecerá sempre uma brecha, também há sempre alguém que não se conforma com esse ataque ao conhecimento, à cultura, à arte, à beleza, à vida, afinal aquilo que os livros representam...
Proibidos, os livros físicos darão origem aos livros mentais, os resistentes decoram os livros e assim, a salvo, noutra era podem voltar a passar ao papel ou ao formato digital; haverá parábola mais actual e pungente da nossa sociedade de hoje em que, ainda que haja liberdade de os ter, os livros são cada vez menos lidos e substituídos pela informação padronizada e condicionante com que somos bombardeados sistematicamente pelas plataformas digitais?
O que Bradbury quis transmitir (e que é real) é que é muito estreita a fronteira entre a liberdade de pensamento e o condicionamento extremo do espírito humano e exemplos desses não nos faltam hoje na nossa sociedade dita ocidental e iluminista. Ainda há quem rotule esta fantástica obra como uma DISTOPIA, mas a realidade e a história não lhe dão razão há décadas? Não se continuam a queimar livros? Não existe cada vez mais censura por esse mundo fora? Mais do que uma realidade futura levada ao extremo, Fahrenheit 451 alerta-nos que a realidade actual já passou muitos limites éticos e morais e que estamos no limiar de outra Era Sombria:
" Transmitiremos oralmente o conteúdo dos livros aos nossos filhos e os nossos filhos, por sua vez, levarão o ensino aos outros. (...) Milhares, pelas estradas, pelos caminhos de ferro esquecidos, vagabundos por fora, bibliotecas vivas por dentro. (...)...um dia virá, próximo ou distante, em que os livros poderão ser escritos de novo, em que nós seremos convocados, um por um, para recitar o que sabemos e imprimiremos esses livros até à próxima Era Sombria, em que tudo terá de recomeçar de novo. É isto o que o homem tem de maravilhoso. Ele nunca perde a coragem, nunca se desilude ao ponto de tudo abandonar, pois conhece muito bem a importância e a grandeza da sua tarefa."
João Vírgula
(Leitor de Valmedo)
"Há sempre alguém que diz não, tem cuidado..."
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