"Imagine que está a contemplar uma ilha. Não conhece essa ilha. Está a olhá-la de cima, a grande altitude. (...) Do lugar onde se encontra, tem uma visão mais semelhante à de um anjo que à de qualquer habitante da ilha. Aliás, a posição de um leitor em relação a um livro é muito semelhante à que os anjos detinham do mundo no tempo em que ainda gozavam de alguma credibilidade. Tal como eles, o leitor está a planar, observando tudo com uma atenção grave, sem que nada lhe possa ser ocultado. (...)
Claro que ele continuava a acreditar nos anjos - que outra forma haveria de explicar o movimento dos dardos depois de saírem da mão do atirador, o movimento da água, o desenrolar das folhas? Num mundo cheio de mistérios, onde nunca se deveria explicar com mais entidades aquilo que podia ser explicado com menos, não havia alternativa aos anjos. Aquilo em que ele já não acreditava era nas boas intenções que sempre atribuíra aos anjos; receava agora que eles pudessem ter más intenções, ou nenhumas."
in "O conhecimento dos Anjos" - Jill Patton Walsh
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Pieter Bruegel, o Velho - "A queda dos anjos rebeldes" |
João Vírgula
(Leitor de Valmedo)
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