sexta-feira, 20 de outubro de 2017

EFEMÉRIDE #  29


OS ROMANOS, OS MOUROS E OS MORTOS...



Ponte romana - Alcanede
"Na noite de 20 de Outubro de 1499 chegou o cortejo, anunciado pelo estrondear das trombetas, charamelas, sacabuxas e tambores que o precediam, à luz de tochas empunhadas por algumas centenas de dignitários, condes, senhores, fidalgos, prelados, capelães, cantores, religiosos de várias ordens e muita gente honrada, todos a cavalo, grande foi o alvoroço que se suscitou entre o povo local e em quase todos os da região"...  Assim descreve Garcia de Resende um dos acontecimentos mais importantes que alguma vez tiveram lugar na outrora e ainda pequena povoação de ALCANEDE, uma visita real, só que neste caso, apesar da pompa e circunstância, El Rei D. João II, o Príncipe Perfeito, porque é dele que se trata, não acena sequer a tanto povo porque há quatro anos que está morto!                                
Cruz de Portugal - Silves
O rei poderia ser perfeito em muita coisa mas não em relação a questões de saúde, a qual lhe começou a faltar em 1490, logo após a morte do príncipe herdeiro Afonso, numa queda do cavalo à beira do Tejo... Fosse pelo desgosto causado pela morte do filho ou por peçonha que lhe deram, como alguns suspeitaram, nunca recuperou o bem-estar e antes pelo contrário agudizaram-se as crises, e no seguimento de vários acidentes e desmaios que sofreu decidiu ir experimentar os benefícios das águas das Caldas de Monchique... De pouco lhe valeu, morreu pouco depois, ainda nos Algarves, aos 40 anos de idade, tendo sido sepultado na Sé de Silves. O seu sucessor, D.MANUEL I, passados quatro anos, ordenaria a trasladação de D.João II para  o Mosteiro da Batalha, tendo Alcanede sido escolhida como uma das estações de paragem do cortejo fúnebre.... D. Manuel, como agradecimento à cidade de Silves, mandou por lá construir a Cruz de Portugal, um belíssimo cruzeiro em estilo gótico manuelino.



Castelo de Alcanede - (Foto - Jean Charles Forgeronne)


E enquanto o ataúde real era depositado na igreja sempre apinhada de gente, podemos imaginar o pequeno castelo de Alcanede lá em cima no monte, iluminado por centenas de tochas e de portas abertas aos mais importantes do cortejo, recebidos certamente com um banquete, enquanto o resto dos cavaleiros e suas montadas, por não caberem em tão exígua fortaleza, acampavam pelas encostas e no terreiro vizinho... 
O pequeno castelo voltava aos seus dias de glória, ele que tinha sido erigido a partir de uma fortificação existente no local e feita pelos Romanos, que tinha sido ocupado por Suevos e Visigodos, que tinha sido reconstruído e melhorado pelos Mouros, que tinha sido tomado a estes pelo Conde D. Henrique, que tinha sido reconquistado novamente pelos Mouros até D. Afonso Henriques o ter reconquistado definitivamente após muita insistência e numerosas ofensivas, tal era a sua importância para o alargamento do território até Lisboa e depois Algarves...



Ruínas


Mas a história não fica por aqui, o castelo de Alcanede sofreria ainda e muito com o  violento sismo de 1531 que lhe arrasou as torres e grande parte das grossas muralhas e a partir daí caiu num longo abandono e esquecimento... Até que, coisa rara e louvável neste país, alguém decidiu restaurar e salvar o desafortunado monumento, corria o ano de 1940, devolvendo-lhe a dignidade e a beleza de outrora, que manteve até aos dias de hoje....



D. João II


João Breve

(Cronologista de Valmedo)

1 comentário:

  1. Como tenho provas da passagem do corpo de D. João II por Montemor-o-Novo, muito agradecia que me informasse da fonte por onde se prova a sua passagem por Alcanede e se conhece outras localidades por onde tenha passado. Antecipadamente grato, Jorge Fonseca. E-mail: jmrfonseca2000@yahoo.com.br

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