sexta-feira, 27 de outubro de 2017




AH! Os relógios

Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for das vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte;
não o conhece a vida - a verdadeira - 
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.

Inteira sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.

E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida - 
acaso lhes indaga que horas são...


Mário Quintana, in "A cor do Invisível"





Ampulheta - séc XVII (Casa-Museu Medeiros e Almeida)


J.C

(Poeta de Valmedo)

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