segunda-feira, 28 de novembro de 2016




OS SANTOS, A MEMÓRIA E A AJUDA II


Parece que à data da sua aclamação e com trinta e seis anos de idade, D. JOSÉ I era um homem atarracado, de largos ombros e rosto pálido marcado por grandes olhos... Ora sendo os olhos o espelho da alma e não só, segundo a sabedoria chinesa, sendo eles grandes como os do soberano em apreço parece isso significar que a real criatura seria propensa à imaginação, à criatividade e à imaginação, factos provados pois o rei passava mais tempo nas touradas, nas caçadas e a assistir a espectáculos de compositores, cantores e dançarinos que mandava vir de Itália do que propriamente a trabalhar nos destinos da nação. Mas ainda bem porque assim foi porque os olhos grandes também conferiam ao monarca uma personalidade susceptível a influências externas (daí ter sido SEBASTIÃO JOSÉ CARVALHO E MELO a tomar entre mãos a administração do país) e enquanto um, com aquela passividade altiva própria de muitos monarcas se divertia à grande e à francesa, o futuro Marquês de Pombal cedo tratou de tomar as rédeas do poder e arranjar conflitos com a ordem estabelecida e com demasiados inimigos... 





A Real Barraca



Mas uma das vantagens que houve em não ter muitas preocupações com a gestão do país e ter à disposição imenso tempo livre é que, depois de instalada a família real na REAL BARRACA, D. JOSÉ pôde dedicar-se a projectos mais lúdicos, como seja ter mandado construir, mesmo ali ao lado da barraca, no cimo da Calçada do Galvão, um JARDIM BOTÂNICO para a educação e brincadeiras dos seus netos (entre os quais o futuro rei D. JOÃO VI)... Seria, aliás, o primeiro jardim botânico em território português e claro que para a realização desse projecto teve o rei que se socorrer de outra iminência italiana, o naturalista Domenico Vandelli que viria também a ser o fundador do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra passados alguns anos.




Jardim Botânico da Ajuda



Mas D.JOSÉ I, já estabelecido na sua carreira monárquica e com a educação das quatro filhas a cargo da rainha MARIANA VITÓRIA, e alheado do ódio e do clima revolucionário latente contra o regime absolutista e despótico levado a cabo pelo seu primeiro-ministro, continuava a desfrutar de outros interessantes devaneios tais como as suas aventuras amorosas com damas conceituadas da sociedade da época, nomeadamente D. Teresa, irmã do Marquês de Távora. E porque a situação tinha chegado ao ponto de os inúmeros inimigos de Sebastião convictamente acharem que para o derrubar seria mais fácil eliminar o rei, seu protector e aliado incondicional, não surpreendeu por aí além o atentado de  3 de Setembro de 1758...



Marquês de Pombal


Toda a gente sabe que a descer todos os SANTOS ajudam mas D.JOSÉ I foi mais além, ele convenceu-se de que a subir também alguns santos poderiam ajudar e por isso entendeu que o ALTO DA AJUDA era o sítio mais seguro para viver mas como nunca se deve fiar em demasia lá tratou de mandar rasgar as calçadas da Ajuda e do Galvão para que a subida desde Belém até à Barraca Real fosse menos penosa. Exactamente numa dessas subidas, regressando à Barraca Real vindo de uma entrevista amorosa com a amante e confidente, foi alvo de uma emboscada e miraculosamente se salvou com ferimentos causados por um tiro num braço, não se sabe como mas um santo qualquer deve ter intercedido e assim evitou naquela noite um regicídio e uma crise de incalculáveis repercussões...





Igreja da Memória


Aproveitou-se Carvalho e Melo para aniquilar os seus principais inimigos (entre os quais os TÁVORAS, acusados de conspiração e autoria do ataque) e rapidamente tratou D. JOSÉ de agradecer aos SANTOS o milagre da sua salvação mandando erigir, em 1760, a IGREJA DA MEMÓRIA, exactamente no local do atentado em plena Calçada do Galvão..,  O projecto do templo só poderia ser entregue a um arquitecto italiano (BIBBIENA) e que melhor local para a sepultura do Marquês de Pombal? Afinal, se naquela noite tivesse o rei morrido teria morrido Sebastião também....



Mausoléu do Marquês de Pombal


João Alembradura

(Historiador de Valmedo)

Sem comentários:

Enviar um comentário