domingo, 27 de novembro de 2016




OS SANTOS, A MEMÓRIA E A AJUDA -- I



 O turista ou apenas o curioso que chegue às imediações do Palácio da Ajuda poderá interrogar-se: O que faz uma solitária torre majestosa, qual obelisco apontando ao céu e misteriosamente  erguida num largo banalíssimo que hoje serve de parque de estacionamento?  
   A resposta obriga-nos a recuar no tempo, até 1750...



Torre do Galo ou da Ajuda


Exactamente a 7 de Setembro desse ano, D.JOSÉ, "O REFORMADOR", é aclamado como rei após a morte de seu pai, D. João V e entrou, como se costuma dizer, com o pé esquerdo: no começo do seu reinado e como sinal de mau agoiro e das dificuldades que o esperavam deflagra um terrível incêndio no majestoso HOSPITAL DE TODOS OS SANTOS, no Rossio, o maior da nação e que era um magnífico exemplar do estilo manuelino e um ex-libris da capital do império... Uma impressionante tragédia que se abateu sobre a cidade e que muito comoveu a população lisboeta.




Representação do Hospital de Todos os Santos - Painel de Azulejos do Museu da cidade de Lisboa


E os santos continuaram a acompanhar o destino de D.José pois exactamente no dia de Todos-os- Santos de 1755 acontece o grande terramoto que destrói meia Lisboa.... Durante 7 minutos a terra treme violentamente e metade da capital rui por terra, especialmente a parte baixa da cidade... Um dos edifícios que desapareceram nesse desastre foi exactamente o Hospital de Todos os Santos desencadeando em 1770 a instalação de um novo hospital no Convento de Santo Antão e que ainda hoje é o Hospital de S.José.




Retrato de D.José - Palácio Nacional de Queluz



Embora a família real não tenha sofrido com o cataclismo pois encontrava-se na Quinta de Belém, zona pouco afectada, o cagaço foi tanto que D.José fez questão de nunca mais viver ou sequer respirar debaixo de qualquer parede ou tecto de alvenaria e então o medo mórbido de morrer soterrado pelos calhaus implicou a construção da REAL BARRACA! Neste autêntico palácio de madeira que albergou a família real durante trinta longos anos, tantos quantos durou a mania do rei, apenas a Torre da CAPELA REAL foi construída em alvenaria e quando tudo o resto desapareceria já no reinado de D.Maria devido a um incêndio provocado por um descuido com uma vela por parte de um serviçal haveria de sobreviver a Torre até aos dias de hoje. D.José, que não assistiria ao desaparecimento da sua luxuosa barraca (apesar de ser um Paço de madeira e pano não deixava de estar recheado de tapeçarias, pinturas e ourivesarias dignas de uma corte faustosa) ficaria para sempre lembrado por ter tido a ideia pioneira de uma construção anti-sísmica...



João Alembradura

(Historiador de Valmedo)

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