O VÍRUS DA BOLA
- Ai James, se ao menos houvesse vacina para esta maldita doença! - sussurrou o JC por entre uns guinchos irritantes enquanto o carro ia a custo parando junto ao forte de Paimogo, ali mesmo na extremidade de Verde Erva Sobre o Mar. E amigos caninos, só depois de colocar todos os meus sentidos em alerta e de ter a certeza de que aqueles gemidos de dor vinham da viatura e não do meu companheiro é que fiquei um pouco mais aliviado embora nada sossegado até porque foi a única coisa que ele dissera até então desde que saíramos de casa. A manhã acabaria por se compor, demos um passeio agradável e pude dar largas à minha corrida e até tive mais liberdade que o habitual para explorar tudo e mais alguma coisa... Podeis pensar que isso é uma maravilha, sorte a minha, e eu até aproveitei a oportunidade mas sempre que me aproximava do JC sentia-o ausente, às vezes de olhar perdido no oceano e até aquela voz intimidante que era costume lançar-me havia desaparecido, tudo o que me dizia não era convincente e não passava de queixumes, definitivamente ele está doente, pensei. E mais preocupado fiquei ainda quando ele me disse:
- James, estou a pensar seriamente em trazer-te para um passeio sempre que o glorioso jogar, assim não sofro tanto. Se souber o resultado só depois do jogo ter terminado custa menos e ainda se aproveita melhor o dia.
- Estás a brincar! - disse eu - Havia de seres logo tu, que se for preciso não comes e não dormes só para ver alguns jogos.
Estão a ver como o caso é sério! Tudo começou ontem, pela tardinha, durante uma daquelas brincadeiras de que os humanos muito gostam de ver e que consiste em dar chutos numa bola durante uma imensidão de tempo só para ver quem acerta mais vezes no alvo. E por aquilo que já pude observar nas poucas vezes que tive direito a assistir lá em casa não passa de um jogo um bocado parvo, tanto tempo gasto para apenas alguns momentos de emoção e de magia (opinião do JC). Porque é que não resolvem tudo em minutos com uns remates à baliza e decidir logo ali quem é o melhor? E nós sabemos que quando jogamos à bola com os nossos companheiros humanos divertimo-nos imenso mas tudo o que dura mais de meia hora já chateia, especialmente a eles...
Pois bem, mas enquanto em certos jogos nada se passa de extraordinário e noutros até provoca nos machos lá de casa alguma boa disposição, ontem foi diferente... eu bem vi! Pela vidraça da porta defronte do sofá eu conseguia ver o JC e o Miguel de ar muito apreensivo, por vezes exaltados e furiosos, por vezes acabrunhados e no final atacados por uma prostração imensa chegando mesmo a levantarem-se várias vezes e a abandonaram a sala talvez para não ser tão doloroso....
E não foi a primeira vez que os vi assim alterados, porque já percebi que aquele desporto distribui de igual modo euforia e bem estar como tristeza e frustração, mas enquanto geralmente esses sintomas passavam com uma noite de bem dormida desta vez não só se mantiveram como se agravaram. É que o JC apareceu-me hoje de manhã com umas grandes olheiras e ar cansado, sinal de que a doença provoca insónia e fadiga, e meus amigos caninos, bem mais grave é a falta de apetite e a mudança de humor, se bem que no primeiro caso até nos possa ser útil (hoje a maior parte do almoço do JC foi para mim) a situação é triste porque nós, nobre e fiel raça, só nos sentimos felizes quando o resto da família também está bem e já me apercebi que por mais esforços que eu faça não consigo mais do que minorar um pouco o sofrimento causado por esta doença, e por isso é urgente que os humanos desenvolvam uma bendita VACINA!
O mundo dos humanos é mesmo muito estranho, não achais bizarro que eles consigam vacinas para tudo e mais alguma coisa ( e amigos, ainda bem para nós que assim sobrevivemos a inúmeras doenças, que o diga eu que por pouco não me finei com a parvovirose) e não se tenham lembrado de arranjar uma para o vírus da bola? E importância especial ganha este assunto se tivermos em conta que onde a PARVOVIROSE HUMANA mais ataca é mesmo no mundo do futebol, diz o JC que é onde estão concentrados alguns dos maiores parvos conhecidos, ele incluído....
E depois reparem, eles sabem que estão doentes mas parecem não estar nada interessados em curarem-se, é que por causa da sua extrema teimosia certamente no próximo jogo se repetirá o que eu já vi e lá estarão o JC e o Miguel prontos para o sacrifício do sofá novamente... Cão sou eu que os aturo depois e não sou tão masoquista.....
E depois reparem, eles sabem que estão doentes mas parecem não estar nada interessados em curarem-se, é que por causa da sua extrema teimosia certamente no próximo jogo se repetirá o que eu já vi e lá estarão o JC e o Miguel prontos para o sacrifício do sofá novamente... Cão sou eu que os aturo depois e não sou tão masoquista.....
James
(Cão de Valmedo)
Sem comentários:
Enviar um comentário