quarta-feira, 25 de junho de 2025

 
TASCAS E ANTROS DE PRAZER - XXXVII

AS DUAS SARAS DE SÃO JORGE

Em São Jorge duas Saras esperam por nós, uma em cada ponta da ilha, de sorriso e conversa fácil cativam os visitantes e se a curiosidade for bastante desvendam com orgulho segredos e curiosidades da sua gente e da sua terra, coisas maravilhosas que não se encontram nos guias de viagens nem nas pesquisas internéticas, talvez não se conheçam sequer embora seja muito provável que sim pois isto de viver numa ilha com pouco mais de 8000 habitantes leva a que, mais cedo ou mais tarde, se conheçam todos e neste caso em particular ainda mais porque trabalham no mesmo ramo, afinal basta que a Sara de Velas vá almoçar ao Topo e que a Sara do Topo vá tomar um café a Velas... 


Nada melhor do que começar o dia em Velas a subir a Rua Manuel Arriaga, sem dúvida a rua mais bela de toda a ilha, admirando sem pressa a sua lindíssima calçada, passar ao lado do jardim e do edifício da Câmara Municipal e logo aí abancar na Pastelaria SUSPIRO para um pequeno almoço servido com carinho num ambiente acolhedor...

"Pastelaria Suspiro" - Velas

Não esquecendo que a produção de laranja é desde a primeira metade do século XIX um dos pilares da actividade económica de São Jorge torna-se então obrigatório acompanhar a irresistível e majestosa sandes de queijo da ilha com um sumo de laranja tão natural quanto delicioso, apesar dos sedutores bolos em exposição e do bom ar dos galões directos que vão chegando às mesas, tirados com mestria pela Sara e com espuma quanto baste, como convém... 

"O Caseiro", Topo

Despedidas feitas à Sara e com a promessa de regresso na manhã seguinte ala que se faz tarde que era hora de visitar as Fajãs da costa norte e depois ir almoçar ao Topo, no extremo sul da ilha... E é no topo do pequeno largo onde impera o Império do Divino Espírito Santo do Topo que que nos aguarda a outra Sara, no CASEIRO, casa típica e humilde mas que honra as tradições gastronómicas dos Açores, prepare-se amigo leitor para um buffet onde apesar das poucas opções tudo pode acontecer, hoje pode haver cabrito ou panados de polvo, amanhã poderá ser albacora ou feijoada, tudo depende das marés e das circunstâncias, nós tivemos a sorte de ser presenteados com carne de novilho guisada a desfazer-se e ainda com uma deliciosa massada do mar, e tudo, mas tudo caseiro! Vale a pena arriscar... E depois, pormenores importantes, o pão, o queijo da ilha e o vinho, quer branco quer tinto, são óptimos!   



Claro que não há preço que pague a simpatia nem as histórias desta outra Sara e a verdade é que no final a conta sai muito simpática ainda para mais quando já inclui a sobremesa que tanto pode calhar ser uma tradicional espécie ou então uma mousse de manteiga de amendoim, tão equilibrada que não dá para enjoar....

"Espécie e mousse"

João Ratão
(Chef de Valmedo)

segunda-feira, 23 de junho de 2025



 

"Fajã dos Cubres" - Jean-Charles Forgeronne

 
CUBRES, AMÊIJOAS E CAFÉ

Depois de longo tempo abafados por um denso nevoeiro que obrigava a redobrados esforços na condução e que não permitia sequer vislumbrar a Graciosa mesmo ali ao lado, abandonámos a estrada regional que bordeja a costa norte da ilha e iniciámos a abrupta e perigosa descida para a Fajã dos Cubres...
 - Será que vale mesmo a pena? Descer lá abaixo e depois não ver nada? - questionava a N., temerosa, mas a temerária decisão estava tomada:
 - Olha vês? O carro virou sozinho, ele é que tomou a decisão, já deve estar habituado a isto! - mas a suposta piada nem um tímido sorriso arrancou - Vamos e pronto, a pior coisa que pode acontecer é voltar para trás sem ter visto nada de jeito, há que arriscar... - mas a parte final da frase já me saiu com menor entusiasmo... 


"Cubres & lagoa" - Jean-Charles Forgeronne

E à medida que íamos descendo crescia o horizonte e a luminosidade, afinal sempre iriamos ver alguma coisa! E o que víamos? Verde e mais verde a ladear a sinuosa estrada e uma luxuriante vegetação a escorrer pelas falésias a pique, e lá em baixo, abraçando as lagoas e espalhado por toda a pequena planície, o verde vivo e rasteiro dos cubres, uma espécie de nome científico Solidago sempervirens, esquisito como todos os nomes científicos, e é uma planta cujo caule pode atingir os 60 centímetros de altura e donde irradiam numerosas folhas apiculares...

"Cubres & Santo Cristo" - Jean-Charles Forgeronne

Mas para além do facto de ser uma planta presente em todas as ilhas dos Açores, uma das principais características dos cubres são as inúmeras e pequenas flores que brotam dos seus caules e pintam todo o cenário de amarelo, mas ainda é cedo, nesta excursão por São Jorge ainda estava tudo demasiado verde... E ali, com a tão próxima mas para nós inacessível Caldeira do Santo Cristo a espreitar, o único local nos Açores onde se criam amêijoas, mas para atenuar a desilusão não é que é mesmo aqui, em plena Fajã dos Cubres, o local ideal para degustar essas amêijoas? Ali em cima, diante da igreja, lá está o café-restaurante que as serve, infelizmente ainda é cedo e o almoço já está reservado para o Topo, onde ainda reina o nevoeiro... Fica para a próxima...

"Café açoriano" - Jean-Charles Forgeronne

Mas ainda antes do almoço e até porque a manhã só ia a meio demandamos a Fajã dos Vimes, famosa pelo seu café! De facto, é ali o único local onde se cultiva café em todos os Açores! E lá chegados é só ir até ao Café Nunes e degustar o dito, para além de ser possível também visitar as plantações... Reza a lenda que no século XIX um emigrante açoriano trouxe do Brasil umas sementes de café arábica e que graças ao especial microclima da Fajã dos Vimes prosperou até aos dias de hoje... E que o café é delicioso lá isso é, é especial mesmo, afianço... 



João Palmilha
(Viajante de Valmedo) 

segunda-feira, 16 de junho de 2025

 
A ILHA DO DRAGÃO DEITADO

Com 54 Km de comprimento e 7 Km de largura máxima, a ilha de São Jorge é uma cordilheira vulcânica de forma oblonga e que com a sua costa recortada e os seus picos montanhosos fazem lembrar a silhueta de um dragão deitado e mesmo não tendo a certeza que está ele dormindo há quem lhe chame a ilha do dragão adormecido... Já Raul Brandão, quando visitou a ilha em 1924 e ia escrevendo "As Ilhas Desconhecidas" apelidou-a de ilha castanha devido à cor das rochas na Ponta dos Rosais...
E claro, teria que existir mesmo um dragão na ilha...

"O dragão acordado" - Velas - Jean-Charles Forgeronne 

Mas na Praça de Velas, até porque um e outro se completam, para além do dragão encontramos também mesmo ali ao lado São Jorge, primeiro na sua Igreja Matriz lindíssima e depois estampado logo no início da bela calçada da rua Manuel de Arriaga, açoreano e primeiro presidente da República Portuguesa...



  Mas São Jorge distingue-se também pelas suas mais de 60 (!) fajãs, essas pequenas planícies de terreno cultivável à beira mar e assentes em bancos de lava, e ainda pelo seu famoso e inconfundível queijo cuja produção foi incentivada pelos primeiros colonos flamengos que chegaram ao Topo por volta de 1480 ao verificarem que o clima nas zonas mais elevadas da ilha era semelhante ao da sua terra natal e ideal para a produção de queijo...

"Fajã do Ouvidor" - Jean-Charles Forgeronne

João Palmilha
(Viajante de Valmedo)

domingo, 15 de junho de 2025

 
ESCRITO NA PAREDE - XLV


"Velas, São Jorge" - Jean-Charles Forgeronne


 " Já percebi que o que as ilhas têm de mais belo e as completa é a ilha que está em frente."

Raul Brandão
(em "As ilhas desconhecidas")


"Em Pé e Deitado" - Jean-Charles Forgeronne

 
TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO - XV 

AS PIRÂMIDES DOS ATLANTES

No dia 27 de Agosto de 2013 teve lugar na Câmara Municipal da Madalena, na ilha do Pico, uma conferência onde foram apresentados os resultados das primeiras sondagens arqueológicas das misteriosas pirâmides descobertas por dois arqueólogos, Nuno Ribeiro e Anabela Joaquinito, e que terão sido construídas antes da chegada dos portugueses aos Açores! Sim, amigo leitor, leu bem, existem pirâmides na ilha do Pico, e não são duas ou três, são cerca de 140! Construídas pelos Atlantes, logo disseram alguns...

"Pirâmide" - Jean-Charles Forgeronne

As pirâmides concentram-se no concelho da Madalena, são construídas em pedra e assemelham-se às egípcias e às maias e embora mais pequenas algumas chegam a atingir os 13 metros de altura e nelas foram encontrados artefactos como anzóis, pontas de metal, ossos, conchas ou fragmentos de cerâmica que, tudo indica, são muito anteriores à descoberta dos Açores pelos Portugueses em 1427! Além disso, as pirâmides apresentam características arquitectónicas muito peculiares como sejam câmaras no seu interior, degraus, pisos circulares, decoração no topo com pirâmides e, no seu conjunto, desenhando até  uma praça ampla para cerimónias... 

"Pedra e mais pedra" - Jean-Charles Forgeronne

Outro pormenor importante é o facto de as pirâmides estarem alinhadas no sentido sudeste/noroeste, orientadas em direcção ao vulcão do Pico e ao solstício de Verão, conferindo-lhe um cunho sagrado... E ali, ao lado do rendilhado basáltico das vinhas do Pico, estas construções despertam a curiosidade e a necessidade de investigação criteriosa pois parecem significar muito mais do que os populares maroiços de uso agrícola...

"Vinhas do Pico" - Jean-Charles Forgeronne

E que dizer ainda da pirâmide submersa descoberta em 2012 por um velejador português, Diocleciano Silva, a meio caminho entre São Miguel e Terceira, uma estrutura que o sonar da sua embarcação desvendou no fundo do mar e que terá 60 metros de altura e 8000 metros quadrados de base, à espera de ser investigada? 

João Iniciado
(Ocultista de Valmedo)

terça-feira, 3 de junho de 2025

 
EFEMÉRIDE # 110

CRUZAR AS PERNAS E AS PALAVRAS

O dia amanheceu sem chuva apesar de nas minhas costas o Pico teimar em esconder-se atrás de um nevoeiro de chumbo, olho para o dragão deitado à minha frente, que é como quem diz São Jorge, sento-me no agradável miradouro do Sara Village e deixo o sol iluminar-me a espaços por entre as nuvens neste oásis de beleza, o silêncio impera, apenas ao longe um pássaro ou outro arrisca um pio, vou sorvendo lentamente o café e desejando que o tempo pare...

"O acordar do dragão" - Jean-Charles Forgeronne

Cruzo as pernas, entrelaço as mãos atrás da nuca, fecho os olhos o máximo tempo possível e não querendo adormecer abro-os e então reparo no jornal abandonado na mesa ao lado, mostrando umas palavras cruzadas incompletas, alguém, talvez com pressa, tinha rabiscado algumas letras mas abandonara o desafio... Não resisti, nunca resisto a umas boas palavras cruzadas, ainda que em férias e roubando algum tempo de contemplação destas paisagens idílicas, mas como dizem que é bom para os neurónios acabarei por me perdoar...



E depois reparo num artigo do jornal em que faz referência à efeméride, passam hoje exactamente 100 anos que foram publicadas as primeiras palavras cruzadas em Portugal! De facto, no dia 3 de Junho de 1925 surgiram as primeiras palavras cruzadas em solo lusitano, num jornal sediado no Porto e chamado Sporting, e nada tendo o curioso caso a ver com futebol não deixa de me intrigar, como adepto do glorioso e como curioso das ciências e artes do oculto, que apareçam lá as palavras "sporting", "porto", "revista", "ganhar" e "santa"! E agora sinto um calafrio, penso se o destino não estará mesmo programado por algoritmos e questiono-me se esta não será uma mensagem vinda do além numa cápsula do tempo anunciando que nos dias de hoje, e fazendo a revista dos últimos tempos, para o Benfica ganhar ao Porto e ao Sporting nem a Santa lhe valerá?  
Abano a cabeça e volto a cruzar as pernas e a olhar para o dragão deitado...

João Portugal
(Linguísta de Valmedo)

"A caminho de Nesquim", Pico - Jean-Charles Forgeronne

 
CURIOSIDADES DO MUNDO-CÃO - LVIII

AS FEZES MAIS BEM-CHEIROSAS

Se no seu passeio à beira-mar por uma qualquer costa açoreana encontrar uma pequena "pedra" cinzento-escura, porosa, leve e parecendo-lhe bem cheirosa, amigo leitor, não a devolva ao mar nem a ignore, pode ter encontrado âmbar, um verdadeiro e raríssimo tesouro!
Um cachalote médio consome mais de uma tonelada de lulas por dia e as partes indigeríveis da lula, as suas peças bucais também conhecidas por bicos, são vomitadas mas, por vezes, algumas conseguem atingir o intestino e assim constituir um perigo para o animal em caso de perfuração; como defesa, o cachalote produz então no intestino o âmbar cinza, uma substância gordurosa produzida com o intuito de envolver os bicos e assim evitar a perfuração bem como facilitar a sua expulsão através das fezes... Para ter uma ideia, certo dia foram encontrados no estômago de um cachalote 18000 bicos de lulas! 


"Museu do Cachalote e da Lula" - Madalena do Pico

Quando encontrado no interior do intestino de cachalotes mortos o âmbar é uma matéria esbranquiçada e fétida mas se encontrada numa praia depois de anos e por vezes décadas a flutuar pelos oceanos apresenta-se cinzento-escura e com um cheiro único, exótico e transcendental, impregnado de aromas intensos, doces e amadeirados que os perfumistas traduzem em paixão e sensualidade... Desde há séculos pago a peso de ouro pela indústria da perfumaria, daí chamar-se também ao âmbar o "ouro flutuante", nunca ninguém conseguiu reproduzir a sua fragrância em laboratório pois é impossível reproduzir o ambiente intestinal do cachalote bem como a acção da água dos oceanos... Para tornar ainda mais preciosas e raras essas fezes perfumadas acresce que apenas um em cada cem cachalotes produz o âmbar!


Fonte: Ambergris Europe

João Atemboró
(Naturalista de Valmedo)

sábado, 31 de maio de 2025

 
CURIOSIDADES DO MUNDO-CÃO - LVII

ANDAR DE CARALHO CALÇADO!

Dizem por vezes caridosas almas, e talvez apenas em situações alheias, que "o tamanho não importa"! Mas claro que importa sim senhor, digo eu a plenos pulmões na "Fábrica da Baleia de Porto Pim" ao olhar para a pele de um pénis de um cachalote: fico então a saber que, em média, o pénis de cachalote mede 1.63 metros! Não importa? Do tamanho de um macho médio da espécie humana?


"Pele de pénis de cachalote" - Fábrica de Porto Pim

Do cachalote aproveitava-se tudo, mas tudo mesmo, e era comum transformar a pele de cachalote em couro para o fabrico de solas de sapatos e de albarcas, uma espécie de sandálias ou alpercatas típicas da ilha do Pico que, pela sua resistência e durabilidade, eram a melhor opção para se usar nos rochedos de basalto e nos caminhos de bagacina da ilha... A pele mais procurada e valiosa do cachalote era mesmo a do seu membro viril, devido às suas excepcionais resistência e durabilidade! Ou seja, nada melhor do que andar de caralho de cachalote calçado!...

 


João das Boas Regras
(Sociólogo de Valmedo)

sexta-feira, 30 de maio de 2025

 
CURIOSIDADES DO MUNDO-CÃO - LVI

O IMPONENTE CACHALOTE!

Não é o maior animal que alguma vez existiu neste planeta do mundo-cão, esse título pertence à sua prima baleia azul, com os seus 30 metros de comprimento e as suas 200 toneladas de peso, mas o CACHALOTE é, talvez, o animal mais imponente de todos entre os que habitaram e aqueles que actualmente habitam a Terra, senão reparemos nos seus atributos que nos foram transmitidos por Malcolm Clarke, um dos maiores especialistas sobre cachalotes e lulas e que viveu e trabalhou no Pico, tendo-nos deixado um riquíssimo espólio fruto do seu trabalho de investigação: 

"Antigo Museu dos Cachalotes e Lulas", Madalena

- é o maior mamífero com dentes que alguma vez existiu;

- possui mais de 20 pares de dentes, entre os 8 e os 20 cm de comprimento, podendo pesar, cada um, mais de um Kg;

- tem o maior cérebro alguma vez conhecido do mundo animal, chegando a pesar 9 Kgs;

- também tem o maior nariz do mundo animal!;

- o seu coração pesa à volta de 560 Kgs;

- o cachalote é o animal que consegue mergulhar mais fundo nas águas geladas dos oceanos, chegando a atingir profundidades de mais de 2000 metros!;

- respira 2 a 3 vezes por minuto, oxigenando mais de uma tonelada de sangue que lhe circula nas veias; quando mergulha, esse sangue enriquecido em oxigénio permite-lhe permanecer mais de uma hora debaixo de água, coisa que nenhum outro animal consegue fazer!;

"Exposição no actual Museu de Cachalotes e Lulas", Madalena

- apesar de nos Açores também comerem uma espécie de polvo e algumas espécies de peixes, o seu principal alimento são as lulas, chegando um cachalote médio a consumir 1350 Kgs por dia, o que, numa estimativa anual, no mundo inteiro, significa um consumo de lulas pelos cachalotes na ordem dos 200 a 600 milhões de toneladas;

- o bramido do cachalote, que ultrapassa os 230 decibéis, é o som mais poderoso que algum animal consegue produzir! 

"Madalena, Pico"

João Atemboró
(Naturalista de Valmedo)

segunda-feira, 26 de maio de 2025

"O trancador"- São Roque do Pico

 Jean-Charles Forgeronne
(Fotógrafo de Valmedo)


CACHALOTE, BENDITO SUSTENTO!


Apesar de ter sido em 1984 que o governo português subscreveu os tratados internacionais que proibiam a caça comercial da baleia, aceite por uma esmagadora maioria dos países do planeta mundo-cão, com algumas excepções aberrantes como o Japão, um verdadeiro assassino especialista na carnificina de baleias, só em 21 de Agosto de 1987, nas Lajes do Pico, foi caçado o último cachalote nos Açores, pesava ele 20 toneladas e media 15 metros de comprimento!

"Cachalote na Fábrica de Porto Pim" - Fábrica da Baleia

No entanto, com esse fim da caça à baleia, embora não para todos e ditado por factores económicos e ambientais, herdou-se um valiosíssimo património material, constituído pelas embarcações baleeiras, lanchas e botes, bem como uma memória imaterial preciosa da faina que serviu de sustento a muitos açoreanos então em situação miserável...


"Botes baleeiros" - Casa dos Botes, Calheta do Nesquim

Além disso, a faina baleeira ainda deu origem a essa peculiar arte de entalhar, gravar ou pintar no marfim dos dentes ou nos ossos da mandíbula do cachalote, conhecida como scrimshaw, arte que começou como um passatempo para os homens desterrados a bordo das barcas baleeiras americanas que chegavam a passar entre 2 a 4 anos no alto mar sem pôr os pés em terra!  


"Museu dos Baleeiros", Lajes do Pico - Jean-Charles Forgeronne 

João das Boas Regras
(Sociólogo de Valmedo)

sábado, 24 de maio de 2025

"Sorriso de pedra florida"

 Jean-Charles Forgeronne
(Fotógrafo de Valmedo)


O CÃO NEGRO DA ILHA


- Merda! Esqueci-me disto! - digo involuntariamente em voz alta, no final de um dia exigente e quando, finalmente de pernas estendidas na confortável cama da Sara Village, faço uma apreciação da jornada... Estou com o caderno de viagens na mão e leio e volto a reler aquele apontamento que nele tinha feito muitas semanas atrás, e quantos de vós, verdadeiros viajantes, se identificam com isto, com aquilo que fazemos a priori, com aquelas notas que rabiscamos aquando da idealização e programação de uma viagem futura: 

"O colar do Pico" - Jean-Charles Forgeronne

"Quando chegar ao aeroporto do Pico, - leio enquanto vou decifrando a minha letra - primeira coisa a fazer é procurar a visão da montanha, depois descobrir o sorriso de pedra e depois, antes de Rumar às Lajes para o voto antecipado, passar obrigatoriamente pelo "cachorro"! E, de facto, não me esqueci de olhar para a montanha porque é impossível esquecer de a procurar com o olhar porque ela é omnipresente, tão voraz e magnética que a cada segundo nos atrai - "Onde está ele, o Pico?" - e embora escondida atrás de teimosas nuvens ambulantes ou de um nevoeiro assaz parvo ("Sim, para que serve esta porcaria do nevoeiro?" - irei questionar-me doravante milhares de vezes neste périplo pelas ilhas afortunadas) a montanha está sempre lá, sentimos a sua presença ainda que a não possamos ver, como foi o caso neste e nos seguintes breves dias...

"O Cão Negro" - Jean-Charles Forgeronne

E a seguir, ainda no frenesim da chegada, já com as chaves do Fiat 500 na mão e saudação feita ao Pico que se mostrava sobre um colar de nuvens interminável que vinha dos lados da Madalena e que viajava para leste, ala que se faz tarde para o Cachorro! E lá estava ele como o tinha imaginado, o cão negro de lava, camuflado e de orelhas eriçadas, vigilante... Ali, na costa norte do Pico, o mar penetra em turbilhão por túneis e arcos, numa dança de espuma branca a explodir nas rochas calcinadas pelo vulcão...

"Arco do Cachorro" - Jean-Charles Forgeronne

Faça chuva faça sol, tenha a noite sido difícil ou o acordar intranquilo, no Pico é sempre possível  alegrar o dia por mais exigente que ele se mostre, basta contemplar um sorriso de pedra e é difícil não encararmos com um deles, desde que Helena Amaral os começou a esculpir estão já cerca de 200 sorrisos espalhados pela ilha! Como diz a artista:

"É no rosto, no olhar, no sorriso de cada um de nós que as emoções explodem, desenham e gravam as rugas das alegrias e tristezas da vida. Sorrir é comunicar sentimentos íntimos e privados, é partilhar silêncios e olhares que só o rosto pode divulgar. Sorrisos de Pedra pretende oferecer o enorme potencial que é o sorriso nos rostos das crianças, dos adultos e dos mais velhos..." 

"Sorriso" - Jean-Charles Forgeronne 

E se é certo que falhei o primeiro sorriso de pedra depois iria desforrar-me, muitos e muitos encontrei para me alegrar...


João Palmilha
(Viajante de Valmedo)

quarta-feira, 21 de maio de 2025

 
ESCRITO NA PAREDE - XLIV


"Algures no Pico!" - Jean-Charles Forgeronne

Solução: VIAJAR!!!!

sábado, 10 de maio de 2025


"O povo é sábio?... Não é nada, muitas vezes, acho que o povo não é nada sábio. Há sabedoria popular no povo, isso é outra coisa. Mas, ao nível político, é muito fácil levar-se por ideias, para mim, completamente demagógicas e perniciosas!"

Sérgio Godinho
(Músico, escritor)
in "Somos Livros", 2024
 

A MISTERIOSA ORIGEM DAS PALAVRAS - XXIV

A DEMOCRACIA, AS ELEIÇÕES E OS IDIOTAS...

A palavra "idiota" deriva do grego antigo ídios, que significava "privado" ou "pessoal" e aplicava-se a pessoas que simplesmente não participavam da vida pública e que por uma qualquer razão não desempenhavam cargos públicos nem se interessavam pela vida da comunidade na antiga Grécia e mais tarde em Roma, uns por não terem capacidade para isso mas muitos outros, capazes e inteligentes, porque simplesmente preferiam a tranquilidade do seu cantinho às querelas políticas e sociais... 


Só tempos mais tarde, já com o notável sistema político grego plenamente instalado e a que se deu o nome de democracia (demos - povo + kratos - poder, força), e em que todos eram chamados a participar activamente na vida da comunidade, é que aqueles que teimavam em se manter afastados e assim abdicar dos seus direitos e de opinar sobre o interesse comum, os idiotas, passaram a ser conotados como indivíduos sem distinção ou qualificação, como pessoas ignorantes e pouco inteligentes...   



E de facto, já que estamos em efervescente período eleitoral num país conturbado e num mundo instável, é impressionante e quase inacreditável constatar que hoje em dia muitos e cada vez mais se armam em verdadeiros idiotas abdicando da escolha do seu futuro e optando por o colocar nas mãos de outros... idiotas!
Cá por mim, que nunca abdicarei de votar e de fazer uso da minha voz e que até tenciono fazê-lo já amanhã por antecipação, o mais certo é depois voltar a tornar-me novamente um verdadeiro idiota e resguardar-me ao máximo no meu cantinho e na minha privacidade...

João Portugal
(Linguísta de Valmedo)

sábado, 3 de maio de 2025

 
TIRADAS DO GÉNIO - VI

O SEU MELHOR LADO

Consta que numa pausa da rodagem de "Lifeboat", filme de 1944 complicadamente traduzido para português como "Um barco e nove destinos", a actriz Mary Andersen, então sentada diante do imponente realizador, terá perguntado a Sir Alfred Hitchcock qual era o seu melhor lado. Ao contrário do que lhe era peculiar o mestre não usou qualquer tipo de suspense e respondeu de imediato:
 - Minha querida, estás sentada nele!




João Película
(Cinéfilo de Valmedo)

sábado, 19 de abril de 2025

 
CURIOSIDADES DO MUNDO-CÃO - LV

O VIOLINO DE EINSTEIN

- Isso é mesmo verdade? - pergunta o Alvim ao convidado numa das últimas edições da "Prova Oral"... E o convidado, nada menos que o conceituado neurologista Alexandre Castro Caldas, tinha dito:
- Nem Einstein nem a família doaram o seu cérebro à ciência, o anatomopatologista que fez a autópsia roubou o cérebro e não disse nada a ninguém!
Comungo da estupefacção do Alvim, afinal durante décadas nos convenceram da doação do cérebro para investigação e agora isto, decido encostar o carro para ouvir melhor:
- Meteu-o num frasco - continua o convidado - e durante muito tempo teve o cérebro escondido, ninguém sabia que ele tinha lá o cérebro e depois começou a dar bocadinhos às pessoas que iam descobrindo o que ele tinha feito...


"Fragmentos do cérebro de Einstein" - Fonte: SuperInteressante

Eu próprio, amigos, preservo no meu laboratório privado de Valmedo o cérebro de um humanoide conservado em álcool para posterior investigação e claro que quando chego a casa, podre de curiosidade, a primeira coisa que faço é fazer pesquisa sobre o assunto e cai-me em cima uma catadupa de factos e confirmações sobre o roubo do cérebro de Einstein, parece que Thomas Harvey, o tal médico que fez a autópsia, roubou mesmo o cérebro, cortou-o aos bocadinhos e depois foi distribuindo-os assim como quem dá limões aos vizinhos... O certo é que ficou arruinada qualquer investigação credível sobre o genial cérebro, ao conservá-lo em formol ficou estragado depois de tanto tempo e ao desfazê-lo em pedaços invalidou qualquer estudo sobre dimensão ou estrutura, por exemplo...


"Cérebro em Valmedo"- 

Depois, ao longo de várias décadas, algumas manchetes sobre coisas especiais sobre o cérebro de Einstein foram espicaçando o mistério e a controvérsia, por exemplo a de que o cérebro era mesmo especial porque apresentava as vias de transmissão entre os dois hemisférios mais desenvolvidas mas, ouvindo novamente Castro Caldas:
- Nada de extraordinário, Einstein tocava violino, e sabe-se que os violinistas têm essas ligações mais desenvolvidas!
E concluindo, nada melhor do que ter em conta o que dizia o próprio Einstein:
 - "A única coisa de anormal que tenho é a minha curiosidade"!

João Alquimista
(Investigador de Valmedo)

sexta-feira, 18 de abril de 2025

 
EFEMÉRIDE # 109

A LOUCURA GENIAL

Passam hoje exactamente 70 anos exactos que morreu ALBERT EINSTEIN e até esse dia, 18 de Abril de 1955, tinha ele sido durante os 22 (!) anos anteriores implacavelmente perseguido pelo FBI, que o tinha como um perigoso espião comunista e indigno de se tornar um leal cidadão americano, dizia-se até que ele tinha inventado um raio exterminador e um robot que lia a mente humana... Afinal as fake news não nasceram com a tecnologia do século XXI! E não, a trampa do Trump ainda não era o presidente de uns Estados Unidos da América merdosos, à época ele tinha apenas 8 anos, embora já devesse tresandar... Como o tempo da loucura se repete! 


A fama que Einstein ganhou de ser um cientista louco é conhecida, aliás as fotografias que dele são conhecidas não apontam em sentido contrário, cabelo desgrenhado e olhar alucinado que denunciam uma mente conturbada, mas é incontestável que foi um dos maiores génios da humanidade, afinal os artigos sobre a Teoria da Relatividade que lhe valeriam o Prémio Nobel resultaram da continuação de um trabalho que ele iniciou quando tinha apenas 16 anos! E sabemos como os verdadeiros génios desde muito cedo vivem num mundo à parte...
Muitos anos mais tarde e já famoso seria convidado para ser o segundo presidente de Israel mas ele recusou argumentando que não tinha a preparação adequada, e com toda a razão...

João Plutónico
(Astrofísico de Valmedo)

domingo, 13 de abril de 2025

 
ANEDOTAS QUE PARECEM POEMAS - XV

ANÁLISES, EXAMES, MAIS ANÁLISES...

Três médicos iam a caminho de um congresso quando de repente um dos pneus do Mini furou, ouviu-se um barulho estranho vindo da parte detrás do carro e o condutor, sentindo a direcção estranha, decide encostar... Os médicos saíram para examinar a situação e depararam-se com um pneu completamente desfeito e em baixo, e então, após observação, disse o primeiro: 
 - Parece-me que está furado!
 O segundo médico aproximou-se, com o dedo indicador palpou o pneu e sentenciou:
 - Parece-me que realmente está furado!
Então o terceiro médico, já de papel e caneta na mão, sem se aproximar sequer disse:
  - Acho melhor fazermos umas análises e uns exames!
E todos, acenando com a cabeça, concordaram...


 Ainda lá estão, sem mudar o pneu e à espera dos resultados...


João Agulha
(Flebotomista de Valmedo)

quinta-feira, 3 de abril de 2025

 

"OVNIS sobre Lisboa"- Jean-Charles Forgeronne



UMA VOLTINHA POR... - III


...Lisboa subterrânea! Os turistas e outros desavisados viajantes do 28 iam abrindo a boca de espanto ao verem entrar e sair pessoas das profundezas da Rua da Conceição através de um buraco aberto por entre os carris e no entanto a explicação para o fenómeno era simples: era o primeiro dia das tão aguardadas visitas guiadas às Galerias Romanas! Tal aventura só é possível por meia dúzia de dias por ano, em Abril e Setembro, por altura das comemorações do Dia Internacional dos Museus e Sítios e das Jornadas Europeias do Património... 
Descobertas em 1771 durante a reconstrução da cidade após o grande terramoto de 1755, as Galerias foram construídas durante o século I, no tempo do imperador Augusto, e a teoria mais consensual sobre a sua função é a de que seria um criptopórtico (cripto=subterrâneo; pórtico=passagem), uma estrutura que criava numa zona de declive e pouca sustentação geológica uma plataforma horizontal que suportava grandes edifícios à superfície, provavelmente o nunca descoberto antigo Fórum da cidade de Olisipo...


As galerias ali estão há 2000 anos, ainda sustentando edifícios, resistindo, exemplo da fantástica capacidade de construção dos Romanos, e depois, regressado ao mundo superior e continuando a voltinha pela baixa vou reparando noutra maravilha da técnica humana: a magnífica calçada portuguesa! E penso, haverá  melhor tributo aos Romanos do que revestir as suas obras subterrâneas com arte?


 João Conde Valbom
 (Olisipógrafo de Valmedo)