terça-feira, 12 de agosto de 2025


 ANTIDEPRESSIVO NATURAL...

Andamos tão ocupados nesta existência caótica e depressiva que não temos nem tempo nem cabeça para repararmos nas coisas mais simples desta vida, muitas vezes também elas as mais belas, e no entanto a natureza tem a todo o momento surpresas para nos deslumbrar, basta dar o primeiro pequeno passo e esperar que aconteça, a recompensa espera por nós...

"Ballerina Alien"- Jean-Charles Forgeronne

Noite de insónia, manhã gloriosa? Embora raro por vezes acontece, chego à praia de Vale de Frades, deserta, ainda meio mundo-cão dorme, entretanto da outra metade muitos já se encontram submersos pelo trânsito caótico a caminho do rotineiro trabalho e a maior parte já mergulhou a fundo nos braços lascivos e alienantes das redes sociais... E eu por aqui, em plena maré vazia, só eu, areal e o oceano! Bem, parece que afinal não estou sozinho, de tanto recuar o mar deixou curiosos despojos... 

"O couraçado" - Jean-Charles Forgeronne

De tanto empinar o nariz para absorver os cheiros a mar quase que tropeçava numa estranha criatura que parecia dançar para mim, uma bailarina alienígena sem dúvida, talvez vinda de Sirius, a estrela mais brilhante da noite e para onde se alinham as pirâmides egípcias... Dou um passo para o lado para me desviar da criatura dançante e quase piso outro ser de outro mundo, um bicho couraçado que tenta fugir às arrecuas e que não tem ar de querer fazer amizade... 

"Ioga estelar" - Jean-Charles Forgeronne

Parece que passei um portal e que entrei noutra dimensão e ao deparar com uma família de peludas estrelas fazendo ioga à beira da água sinto-me num mundo paralelo tão diferente daquele de onde vim há pouco e onde não entram stresses mentais, nem rotinas doentias e castradoras, nem guerras, nem políticos aberrantes, nem desportos fúteis e alienantes, nem pessoas mesquinhas, nem doenças terríveis, nem ameaças de desgraças, nem religiões absurdas...

"O Vigilante" - Jean-Charles Forgeronne

E então tenho a certeza que estou a ser observado, instintivamente olho em volta à procura da nave que deve estar por ali algures e de onde deve ter saído toda esta estranha vida, é que diante de mim tenho agora uma estranha bola de espinhos e onde descortino um olho que me olha com ar ameaçador, que sabe se a enviar dados sobre mim para o planeta de onde veio... 

"O planeta verde" - Jean-Charles Forgeronne

Só não consegui vislumbrar quem me atingiu com o raio verde, o tal da lenda de Verne, talvez dissimulado atrás de uma rocha, o certo é que fui assaltado por uma espécie de tontura, uma sensação de êxtase e quando recuperei e abri os olhos vi que estava noutro local da galáxia, estava num planeta verde... 
E pronto, sempre chega a hora de regressar ao mundo antigo mas agora, depois deste antidepressivo que me purificou a alma, já vou contando as luas para a próxima evasão...   

João Atemboró
(Naturalista de Valmedo)

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