CURIOSIDADES DO MUNDO-CÃO - XLVI
O MEDO, ESSA BOA SENSAÇÃO!
Parece que afinal o medo é uma coisa boa! Dizem os entendidos que, na medida certa, o medo é uma reacção instintiva saudável do comportamento humano pois permite-nos que evitemos situações de ameaça iminente para a nossa sobrevivência... Por exemplo, ao explorarmos o topo de uma falésia se não tivéssemos receio de cair de uma grande altura e esborracharmo-nos lá em baixo isso nos daria uma falsa sensação de segurança que nos levaria a não termos tanta cautela em cada passo que se dá e a queda no abismo tornar-se-ia muito mais provável e o mesmo se aplica a milhentas de outras situações em que é percecionado pela mente humana uma situação de perigo! O que acontece então no nosso organismo quando é disparado o modo de alerta que nos activa para uma reacção de luta ou fuga?
Quando nos sentimos em perigo o nosso Sistema Nervoso Simpático simpaticamente activa uma série de respostas fisiológicas em cascata e que começa com o aumento da produção de adrenalina e outras hormonas que desencadeiam o aumento da frequência cardíaca, a dilatação das paredes musculares dos brônquios, a vasoconstrição dos vasos sanguíneos e a estimulação do sistema gastrointestinal, aquilo a que chamamos um friozinho no estômago ou dores de barriga que podem levar àquilo que é conhecida como diarreia emocional, afinal está provado cientificamente que o nosso cérebro tem uma sucursal no intestino, o que explica porque é que muitas das ideias que temos numa situação de pânico são verdadeiramente ideias de merda, embora muita gente não precise sequer de sentir uma ameaça para as ter e em grande quantidade!
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"O Grito" - Munch, 1893 |
Ora, se já dizia o outro "Quem tem cú tem medo!" e se agora nos diz também a ciência que é bom de vez em quando apanharmos um cagaço, então qual o problema de armarmo-nos em caguinchas de vez em quando, quase morrer de cagunfa ou então borrarmo-nos todos? Afinal tudo descamba na luta pela sobrevivência e herdámos estas estratégias dos tempos ancestrais em que éramos animais selvagens, ao sentirmo-nos em perigo cagámos por onde fugimos para depositar bactérias e toxinas que possam aniquilar quem nos caça (já para não falar do cheiro fétido que pode enjoar o inimigo) e as nossas veias e artérias contraem-se ao máximo para reduzir o perigo de hemorragias se formos feridos, afinal essa é a lei da selva, a maior parte das mortes no mundo selvagem devem-se a hemorragias provocadas por feridas infligidas pelas garras dos predadores...
Mas o medo também pode ser artístico, que o diga Munch que assim relatou no seu diário as sensações que o levaram a pintar um dos quadros mais famosos deste maravilhoso mundo-cão: "Caminhava eu com dois amigos pela estrada, então o sol pôs-se; de repente, o céu tornou-se vermelho como o sangue. Parei, apoiei-me no muro, inexplicavelmente cansado. Línguas de fogo e sangue estendiam-se sobre o fiorde preto-azulado. Os meus amigos continuaram a andar, enquanto eu ficava para trás tremendo de medo e senti o grito enorme, infinito, da natureza."
Viva então o medo, desde que não seja patológico, e desde que não se tenha medo de viver...
João Butterfly
(Analista de Valmedo)
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