quinta-feira, 4 de maio de 2023

 

ENCONTROS IMEDIATOS COM ESCRITORES - X


ROUBARAM A AVE AO POETA!


Algo não batia certo mas eu não enxergava o quê e nem umas voltas à cabeça me deram a resposta... Ali estava eu na agradável Plaza de Santa Ana especado, tinha acabado de dar de caras com o poeta mais popular e influente que o século XX teve em Espanha, ali estava ele mesmo à minha frente, em tamanho real, de ar sereno e mãos estendidas em concha como que a pedir, e no entanto... E então lembrei-me vagamente de ter lido há tempos qualquer coisa sobre um incidente com esta mesma estátua, claro, agora vinha-me à ideia, tinha sido vandalizada, para escândalo tanto dos madrilenos como dos turistas curiosos...  


"Lorca em Madrid" - Jean-Charles Forgeronne

Claro! Faltava a ave nas mãos do poeta, após 29 anos em que a estátua ali sempre esteve quase em paz e sossego a cumprimentar os passantes, em Agosto de 2002 alguém a roubara e nunca mais aparecera! E quando a estátua estiver novamente completa, seja com a ave original eventualmente recuperada ou com uma cópia convém esclarecer qual a sua espécie pois ninguém se entende, se para uns se trata de uma paloma para outros é uma alondra e que raio, é muito diferente se for uma pomba ou então uma cotovia!


Federico García Lorca foi fuzilado pelos franquistas no início da Guerra Civil, na madrugada de 18 de Agosto de 1936, tinha apenas 38 anos de idade e o seu cadáver foi lançado para uma vala comum... Além de notável poeta, Lorca tornou-se uma das principais figuras da dramaturgia espanhola, conseguindo como ninguém transformar as tradições e as vivências conservadoras da sociedade espanhola em autênticas obras universais, num caldo de tragédia, emoção e ambiente poético, sendo disso grande exemplo a peça "A Casa de Bernarda Alba" onde expõe o drama das mulheres das aldeias espanholas... 

SINTO

Sinto
que em minhas veias arde
sangue,
chama vermelha que vai cozendo
minhas paixões no coração.

Mulheres, por favor,
derramai água:
quando tudo se queima,
só as fagulhas voam
ao vento.


in "Poemas esparsos"



João Vírgula

(Leitor de Valmedo)

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