LOUCURAS TURÍSTICAS...
Atravessando a Ponte Palatino, com a mais pequena ilha habitada do mundo à ilharga e à qual chamaram Isola Tibertina, deixámos o Tibre e o vale para trás e de mãos heroicamente ilesas após terem sido postas à prova na Bocca della Verità lá encaramos a penosa subida para o Aventino, um dos sete montes ou colinas da Roma antiga... Tínhamos que lá ir, disseram-nos outros turistas, era obrigatório, recomendavam todos os guias de viagem, imperdível aquela foto diferente de todas as outras, uma secreta visão da vaticana cúpula prometia-se...
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A fila turística - Jean-Charles Forgeronne |
E começou por valer a pena chegar lá acima ao chamado Giardino degli Aranci, que é como quem diz o jardim das laranjas, mui amargas por sinal, embora por ali também se encontrem muitos pinheiros... O jardim, situado num dos mais tranquilos locais de Roma e também conhecido por parque Savello, foi construído sobre uma antiga fortaleza com o intuito de oferecer ao público magníficas vistas sobre o Tibre, Trastevere e São Pedro e quanto a isso ninguém se pode queixar...
Mas a verdadeira atracção, aquilo que de facto nos movera naquela demanda estaria muito perto, poucos metros adiante da luminosa basílica Santa Sabina que nem deu para visitar porque tanta era a excitação naquela ocasião especial porque recebia um engalanado casamento... Limitámo-nos a passar defronte, desejando muitas felicidades aos noivos e que só a morte os separasse mas eis que quando chegamos ao pequeno largo ao fundo e após alguns momentos de desorientada surpresa desabafei em voz alta: - "Fogo! Também aqui? Verdade seja dita, se soubesse que iria ser assim não tínhamos vindo!"
Mais uma interminável fila turística, dezenas e dezenas de pacientes criaturas serpenteando defronte de um portão, ia chuviscando de vez em quando sobre as moleirinhas e notava-se por entre sorrisos e sapateados o desconforto da espera, e tudo para quê? Para uma singular e extraordinária fotografia da cúpula do Vaticano tirada através de um minúsculo orifício, uma espécie de buraco de fechadura que abria as portas do céu! Uma boa meia hora já tínhamos gasto ali, alguns iam desistindo e com isso animavam os restantes e outros ainda depois de tirarem a foto obrigatória saiam dali a sorrir encolhendo os ombros como se não tivesse valido a pena tanto sacrifício, e de facto não vale, ainda para mais quando entre tanta pressão o boneco não sai bem ou porque a luz era demasiada ou porque entre tremuras a coisa sai desfocada! E foi o que me aconteceu, tanta luz que parece que fotografei uma aparição da Nossa Senhora de Roma!
Só depois de me retirar do miraculoso orifício constatei o fracasso da foto e agora era tarde demais, já a fila estava outra vez enorme e nem pensar ficar em espera por mais meia hora, para além disso a foto que a N. tinha tirado e que poderia salvar a jornada também não ficou muito melhor! Quem sabe, talvez o meu amigo Henrique Gomes que passou por ali meses antes e me recomendou o sítio pudesse salvar a história desta louca aventura turística... Certo certo é que não há melhor vista para o Vaticano do que aquela do jardim das laranjas por mais que os guias turísticos aconselhem o buraquinho no portão...
Jean-Charles Forgeronne
(Fotógrafo de Valmedo)
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