O TIBI MORREU!
A minha voz off a ecoar dentro da minha cabeça soou-me muito estranha, "Morreu o TIBI!", lia eu ainda estremunhado nas primeiras notícias on-line daquela manhã, atordoado e confuso e quase num delírio de dissociação de personalidade imaginava que aquela era a notícia da minha própria morte, afinal o TIBI era eu! Fechei os olhos, inspirei fundo e olhei em volta, raios, está tudo no sítio, não estava a sonhar, ainda estava neste mundo-cão e a realidade assumia-se agora em toda a sua crueza, acontecera apenas que morto e enterrado, 2021, finado de velhice e doença, no último suspiro ainda teve tempo o filho da mãe para levar com ele uma memória incontornável da bola lusitana, o TIBI, lendário guarda-redes do Leixões e do Porto na década de 70 e que se tornou para mim, involuntariamente, uma alma gémea, eu que até fui sempre benfiquista desde menino...
"Tibi" |
Tudo começou numa tarde de verão no campo da bola dos Parceiros e eu, que era menino de uma década apenas e de férias grandes em que o tempo sobrava demais, era sempre dos primeiros a aparecer e sofria por antecipação na oficina do Fazenda, "A Bola" já lida e relida, esperava ansiosamente pela chegada da malta mais velha que vinha do trabalho, dos curtumes de Alcanena ou da fábrica da Renova para a peladinha retemperadora do fim do dia e depois, quando alguém gritava que já havia malta suficiente, sete ou oito para cada lado, às vezes em dias ricos até onze, eu exultava: "Bora lá jogar"! E claro, eu que gostava de jogar à frente para poder sentir a alegria do golo lá me sujeitava á lei dos mais velhos e era relegado para guarda-redes, coisa que afinal não me importava muito porque o que eu queria era jogar e se fosse na baliza tudo bem e na verdade até gostava e defendia até algumas coisas... Só que naquela estratégia de jogo completamente anárquica os golos aconteciam como as cerejas e lá ia eu contrariado buscar a bola ao fundo das redes inexistentes e foi então que naquela tarde o Pirata, que nem era grande espingarda na coisa, me marcou um golo e gritou: "VAI BUSCAR TIBI!!!!", tal qual o homem da rádio gritava nos relatos domingueiros sempre que o outro TIBI sofria um golo! Vai daí a coisa pegou, e eu que era até então mais conhecido por Carlitos sempre que ia à baliza transformei-me no TIBI e assim ficou até hoje para aqueles amigos de infância... Por isso, e enquanto desejo paz à alma do grande TIBI, imagino se um dia alguém vai ter as mesmas sensações que eu tive ao ler a notícia da morte de alguém que nunca cheguei a conhecer pessoalmente: "Morreu o TIBI, não o do Leixões, o outro, aquele que escrevia para o blog..."...
"Eu, TIBI" |
E será que existirão mais TIBIS por este mundo-cão afora?
J.C
Longa vida para o blogger Tibi, torrejano dos sete costados. Que 2022 lhe seja um ano simpático, no mínimo, menos feal do que o antecedente naquilo que de feal foi acontecendo.
ResponderEliminarGrande abraço, Andarilho, para ti um 22 muito melhor que a porra do 21 e já agora, que nos contas das tuas aventuras futebolísticas abrantinas? Eras quem? O Yazalde? Ou o grande Dinis das pernas de alicate?
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