A BELA VIDA BURGUESA
Um tempo houve em que não era preciso trabalhar e em que o tempo sobrava para o ócio e para a exibição de dotes, fosse namoriscando com prosápia donzelas em idílicos jardins ou frequentando salões onde reinavam o gosto pela arte e o prazer da quadrilhice e para fazer parte desse mundo bastava pertencer à alta burguesia e talvez melhor do que ninguém Antoine Watteau ilustrou esse mundo encantado... Escreveu um dia Bertrand Russel: "Os homens excepcionais, ignorados pelos seus contemporâneos e a quem somente a posteridade reconheceu o valor, não poderiam manifestar-se no passado se não tivessem herdado uma grande fortuna. Milton, Byron, Shelley e Darwin tiveram essa oportunidade...". Desse lote de afortunados enunciado pelo famoso filósofo poderia constar também Marcel Proust que, embora não fosse verdadeiramente poeta, assim descreveu a tela do pintor seu contemporâneo intitulada "La fête de l'amour":
"La fête de l'amour" - Antoine Watteau |
Crepúsculo mascarando as árvores e as faces
Com o seu manto azul, sob um disfarce incerto;
Uma poalha de beijos rondando as bocas lassas...
Surge terno o que é vago e longínquo o que é perto.
A mascarada, outra longe melancolia,
Faz o gesto de amar mais falso, triste encanto.
Capricho de poeta - ou prudência de amante,
Que pra adornar o amor há que ter mestria -
Eis barcas, libações, silêncios e harmonias.
João das Boas Regras
(Sociólogo de Valmedo)
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