domingo, 9 de janeiro de 2022


A BELA VIDA BURGUESA


Um tempo houve em que não era preciso trabalhar e em que o tempo sobrava  para o ócio e para a exibição de dotes, fosse namoriscando com prosápia donzelas em idílicos jardins ou frequentando salões onde reinavam o gosto pela arte e o prazer da quadrilhice e para fazer parte desse mundo bastava pertencer à alta burguesia e talvez melhor do que ninguém Antoine Watteau  ilustrou esse mundo encantado... Escreveu um dia Bertrand Russel: "Os homens excepcionais, ignorados pelos seus contemporâneos e a quem somente a posteridade reconheceu o valor, não poderiam manifestar-se no passado se não tivessem herdado uma grande fortuna. Milton, Byron, Shelley e Darwin tiveram essa oportunidade...".   Desse lote de afortunados enunciado pelo famoso filósofo poderia constar também  Marcel Proust que, embora não fosse verdadeiramente poeta, assim descreveu a tela do pintor seu contemporâneo intitulada "La fête de l'amour":


 

"La fête de l'amour" - Antoine Watteau

 

Crepúsculo mascarando as árvores e as faces

Com o seu manto azul, sob um disfarce incerto;

Uma poalha de beijos rondando as bocas lassas...

Surge terno o que é vago e longínquo o que é perto.


A mascarada, outra longe melancolia,

Faz o gesto de amar mais falso, triste encanto.

Capricho de poeta - ou prudência de amante,

Que pra adornar o amor há que ter mestria -

Eis barcas, libações, silêncios e harmonias.



João das Boas Regras

(Sociólogo de Valmedo)

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