LIVROS 5 ESTRELAS # XXV
PESSOAS COMO NÓS, CÃES...
Amigos caninos, aqui estou eu de volta e com alegria redobrada, é que fui incumbido do enorme desafio de apresentar esta rúbrica dos livros imperdíveis da vida do J.C e nem tive opção de recusa, tudo começou quando um dia destes, dormitava eu ali junto ao portão e ele, interrompendo o meu banho de sol matinal, botou palavra sem meias medidas:
- James, acorda, bicho!
E eu, abrindo os olhos a custo, encarei-o com ar de quem protesta por ser incompreendido, soubesse ele que durante a noite, enquanto ele e restante família hibernam e ressonam, eu apenas dormito por alguns minutos de cada vez porque estou constantemente alerta para qualquer ameaça ao reduto familiar, talvez tivesse um pouco mais de respeito para com o meu descanso, mas já ele lia com voz forte e teatral o livro que trazia aberto entre mãos:
"Não era um cão como os outros. Era um cão rebelde, caprichoso, desobediente, mas um de nós, o nosso cão, ou mais que o nosso cão, um cão que não queria ser cão e era cão como nós"
Ainda tentei dizer qualquer coisa do género "
espera aí que fiquei baralhado com tanto cão nessa frase" mas qual quê, o J.C estava tão entusiasmado que me lançou aquele olhar de aviso e continuava a leitura:
"Talvez fosse da raça, épagneul-breton, L.O.P, de manchas castanhas e uma espécie de estrela no meio da cabeça, por sinal muito bonita.
- Puro demais, dizia o meu pai. Este cão tem a mania que é fino.
Fino e fidalgo. Lemos livros e revistas sobre a raça, todos sublinhavam o carácter afectivo destes cães que só são felizes quando ao pé do dono.
Esqueciam o resto, a rebiteza, a dificuldade em obedecer, a irrequietude, o exibicionismo. Ou então era este que era diferente.
(...) - Este cão tem um problema, disse por fim o meu pai, está convencido de que não é cão."
Não sei quanto tempo humano durou a leitura mas fiquem sabendo que nunca me portei tão bem, amigos caninos, deitado qual esfinge egípcia e quando o leitor lançava um olhar inquisitorial à minha atenção lá eu o encarava embora prestasse mais atenção à capa do livro onde brilhava alguém muito parecido comigo, um épagneul-breton branco e castanho como eu, embora só um pouco mais escuro à volta dos olhos...
- Este livro poderia ser sobre ti, James, és tão parecido com este Kurika!
- Kurika é nome de cão? - perguntei...
- Olha, até nisso se parece contigo, foram os filhos do autor do livro que o baptizaram assim porque andavam a ler as aventuras de um leão chamado Kurika enquanto tu te chamas James porque o M. andava a ler as aventuras de um herói com esse nome... E reparaste que até a história de dormires na cozinha é em tudo igual, o Kurika barafustou tanto por não querer dormir no canil que a família tfoi obrigada a arranjar-lhe um cantinho na cozinha!
Claro que eu tinha reparado, mas não é assim que deveria ser? Afinal se um cão como eu que se acha mais pessoa do que cão não deve dormir na rua isolado da sua família, certo? Por outro lado, ouvir este livro fez-me um bem danado ao meu ego, já repararam, amigos caninos, que eu sou um cão com nome de pessoa? E o J.C leu-me os pensamentos ao dizer:
- Pois é, James, às vezes olho para ti e desconfio que tu és uma pessoa disfarçada de cão, só te falta falar!
E não se esqueçam, seus cães, peçam lá em casa para vos ler esta obra-prima...
JAMES
(Cão de Valmedo)
Boa James, vais mudar-te prá cozinha!
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