CIVILIZACÃO
Primeiro julguei que fosse apenas mais uma daquelas gralhas que passam o crivo da revisão e que felizmente aparecem com raridade estupidamente estampadas na página de um jornal e que, mesmo que com toda a benevolência desculpada pelos velhos ditados de experiência feitos tipo "são ossos do ofício" ou "no melhor pano cai a nódoa", podem borrar a pintura toda, afinal tinha caído uma cedilha ao título: CIVILIZACÃO! Mas depois, lendo com atenção a primeira linha do artigo de opinião fez-se luz: "Goste-se ou não, um cão é civilização."; afinal a coisa era mesmo assim, intencional e deliberada, não havia qualquer gralha, era mesmo de CIVILIZACÃO que se tratava!
Mas para dar um pouco de sentido a esta minha discorrência recuemos um pouco no tempo, apenas umas horas antes quando me deu a veneta de recuperar um hábito antiquíssimo há muito perdido nas brumas da existência, é que em dia de aniversário tinha eu enquanto jovem a tradição de comprar o jornal e, recortando as notícias mais interessantes do especial dia 3 de Abril, guardá-las para mais tarde recordar... E assim, enquanto essas memórias repousam algures na garagem bem acondicionadas num baú tão velho quanto as traças, dei por mim a trazer para casa a edição 55500 do Diário de Notícias, talvez até para desenjoar do vício entretanto adquirido de "ler" os jornais on-line, o que não é bem a mesma coisa... E assim, por acaso, descobri António Araújo, historiador que marca pontos ao escrever de acordo com a antiga ortografia e que deu à estampa um artigo de opinião absolutamente maravilhoso onde cruza o amor pelos cães e a origem das suas raças, o gosto pela história e pelas curiosidades do mundo-cão bem como uma análise despudorada sobre a humanidade e as suas incongruências, ao fim e ao cabo para concluir que a CIVILIZACÃO é bem melhor e mais evoluída do que a humana CIVILIZAÇÃO! Ficou curioso e com dúvidas, amigo leitor? Remédio simples, leia o artigo de fio a pavio e delicie-se...
"Um cão não tem ódio nem inveja, não conhece a hipocrisia ou a vaidade, e só faz o mal se for treinado ou maltratado para isso - pelos seres humanos. Connosco é diferente, terrivelmente diferente: o mal parece ser inerente à nossa natureza, tal é a dimensão e o requinte que a crueldade perversa entre nós assume, até na indiferença que somos capazes de manter perante o sofrimento alheio."
João das Boas Regras
(Sociólogo de Valmedo)
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