quinta-feira, 5 de novembro de 2020


A RAIVA DO  VULCÃO - IX


E SE A TERRA TREMER A SÉRIO?


Dou comigo a desejar que quando a Terra tremer a valer neste sísmico país seja eu apanhado como estou hoje, em campo aberto e a correr por entre estes frondosos pinheiros, de câmara fotográfica armadilhada e à mão de semear e de olhos apontados para a copa das árvores, cabeça em movimento de radar na busca da mais ínfima agitação que denuncie a presença dos dois esquilos com que me cruzei um par de vezes há semanas em encontros imediatos de terceiro grau e que, por tão surpreendentes que foram, nem me deram tempo para lhes tirar um retrato... E durante este tempo que passou para aqui tenho vindo à caça dos esquivos bichos, sem sucesso até agora mas animado de uma romântica esperança de que eles, por já me considerarem um amigo, uma grata persona que apenas os quer fotografar, baixem a guarda e me façam uma bela pose...



 Muita gente tem a mania de desvalorizar tudo o que são acções, campanhas e treinos de sensibilização para os comportamentos a ter em caso de calamidade, como se fossem brincadeiras a fazer de conta porque isso de grandes sismos ou outras catástrofes naturais só acontecem de séculos a séculos ou em filmes e, regra geral, especialmente aos outros, lá pelas Filipinas, pela América latina ou pela esquizofrénica quinta do Trump, mas depois, quando algo de trágico acontece e nos toca de perto, logo levantamos vozes para aquelas instituições que deveriam ter feito isto e aquilo, que deveriam ter prevenido e informado, que deveriam ter feito alguma coisa, afinal para que servem, pergunta-se logo em catadupa... Pois bem, e para memória futura, a AUTORIDADE NACIONAL de EMERGÊNCIA e PROTECÇÃO CIVIL está de parabéns pela iniciativa que promove neste exacto instante: um singelo minuto de treino e reflexão simulando a reacção a ter perante uma eventual catástrofe sísmica de grandes dimensões, e certamente não foi por acaso que foi escolhido o mês de Novembro, afinal é incontornável a memória do grande sismo de 1755 que destruiu Lisboa e assustou toda a Europa!


"O terramoto de 1755" - João Glama, MNAA

Ora bem, como estou na rua, manda o protocolo que não deva correr ou vaguear por aí sem destino, por isso interrompi no segundo exacto o meu treino e encontro-me aqui parado, calmo mas não sereno como mandam as instruções porque de tão ofegante que estou vou-me curvando de mãos apoiadas nos joelhos e cuspindo os bofes, nem tudo pode ser perfeito, certo? Estou em plena natureza, afastado de qualquer edifício, longe de muros, taludes, chaminés ou postes de alta tensão, estou a cumprir escrupulosamente as instruções e parece que o mundo parou, tudo está em suspenso, o silêncio é aterrador, até o vento amainou e no entanto a terra não treme, apenas um ramo se agita sobre a leveza de um esquilo em movimento... Claro, os primeiros a se aperceberem de que algo de anormal está para acontecer são os animais e se este anda para aqui aos saltos de pinheiro em pinheiro é porque ainda não é hoje que a catástrofe anunciada irá acontecer! Procuro a máquina, disparo de instinto e catastroficamente sai-me esta imagem:




Não ficou grande coisa, reconheço, mas pelo menos fiquei a saber como agir perante um grande sismo em plena natureza, quanto a outros cenários, seja em casa, noutros edifícios, no carro, nos transportes públicos, é só perder um minuto e pesquisar no sítio da Protecção Civil, pode valer uma vida...  E continuo esperançoso de que ainda consiga tirar um retrato de jeito aos esquilos antes que um grande terramoto nos leve a todos!

Jean-Charles Forgeronne
(Fotógrafo de Valmedo)

Sem comentários:

Enviar um comentário