PAN, PANTA RHEI, PANTÓNIO...
Há meia dúzia de anos atrás, no Moledo, um desactivado mas histórico moinho ganhava uma nova existência às mãos de PANTÓNIO, um artista então em início de carreira... De repente, numa orgia de movimento, o moinho passou a ser a morada de revoluteantes criaturas, alguns chamaram-lhes aves, para outros eram pássaros, para mim sempre os vi como andorinhas, talvez para o autor sejam ainda outra coisa, quiçá monstros marinhos, fossem o fossem, tornaram belo aquele moinho e mágico aquele local...
2018 |
O ANTÓNIO nasceu nos Açores e talvez por isso, conhecendo cedo o que é o isolamento, não se deixou confinar pelo Atlântico, antes à boleia das ondas oceânicas quis fazer parte do mundo inteiro, daí daí ter-se transfigurado em PANTÓNIO, ANTÓNIO + PAN (tudo e todos, com todos)... E tal como Heráclito, filósofo ancestral autor do conceito PANTA RHEI, para ele todo o mundo flui num constante devir e tudo é mudança, trate-se do mais pequeno grão de areia ou trate-se das estrelas mais longínquas do cosmos... Além disso, o nosso artista considera-se também um PANTOMIMEIRO, alguém que expressa as emoções e os sentimentos unicamente pelos gestos, pelas figuras, sem palavras, deixando aos outros a liberdade de lhes dar significado...
Mas como tudo se transforma a cada segundo nesse eterno devir, passado algum tempo o moinho foi-se degradando, caíram pedaços de tinta e as minhas andorinhas iam perdendo as asas e o voo, que pena uma coisa assim perder-se para sempre, pensava eu sempre que por ali passava...
Mas como tudo se transforma a cada segundo nesse eterno devir, passado algum tempo o moinho foi-se degradando, caíram pedaços de tinta e as minhas andorinhas iam perdendo as asas e o voo, que pena uma coisa assim perder-se para sempre, pensava eu sempre que por ali passava...
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Uma semana atrás... |
Mas um dia destes, numa escapada até ao planalto em busca de alívio para esta estúpida PANDEMIA, ao passar ali bem perto, tive um choque que me ia fazendo perder o controlo do carro, algo se passava com o moinho do PANTÓNIO, estava imaculadamente branco, as minhas andorinhas tinham desaparecido... Pronto, acabou-se, pensei, mas depois veio-me à lembrança algo que o Leirão me tinha dito há meses atrás, o moinho iria ser novamente pintado... Seria? O PANTÓNIO estaria por aí para devolver o esplendor ao moinho?
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O primeiro dia do futuro... |
E depois, todos os dias ali fui em romaria mais o meu fiel companheiro de aventuras Jean-Charles Forgeronne, fotógrafo de Valmedo, acompanhando o devir de uma nova obra, com as minhas andorinhas, claro, mas diferente porque o artista se transforma a cada criação... E até deu para conhecer o PANTÓNIO pessoalmente, debaixo de um calor inusitadamente tórrido para o Oeste mas que não deu para o assustar, é que, como me confidenciou, da primeira vez que cá esteve tinha levado com ventos medonhos... E só me ocorreu dizer-lhe a brincar: "É o que um açoreano merece já que aqui passamos a vida a sofrer castigos por causa do mau feitio dos vossos anticiclones!...
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O artista reinventando a obra... |
Mas o que realmente disse foi: "Bem, espero vê-lo daqui a uns anos para voltar a ressuscitar o moinho!".
- "Desta vez vai durar muito mais tempo..."
Ainda bem, pensei, enquanto o Forgeronne continuava a disparar para imortalizar a coisa em constante mutação...
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Feito e assinado para a posteridade... |
João Plástico
(Artista de Valmedo)
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