EFEMÉRIDE # 76
O MÚSICO ATRÁS DA CORTINA...
Há precisamente 7 anos anos atrás partia deste mundo J.J.CALE, serenamente e sem alarido como ele sempre fez questão de levar a sua existência, ele que era visceralmente alérgico à fama e às luzes da ribalta e de tal forma assim era que foi necessário outros músicos tocarem as suas canções para que se tornasse conhecido, especialmente Cocaine e After Midnight por Eric Clapton mas também Call me the breeze ou I got the old blues pelas mãos dos LYNYRD SKYNYRD... De resto, também o grande Johny Cash, Tom Petty, Santana ou os Allman Brothers, entre outros, não resistiram a tocar a sua música tão serena por vezes quanto ritmada noutras, uma original miscelânea de blues, country e jazz... Guitarrista exímio como era estava destinado a tornar-se uma inspiração e uma lenda para outros grandes músicos como Mark Knopler ou Neil Young, e claro com destaque para o seu fã número um, Clapton, que em 2006 ainda foi a tempo de gravar a meias com o mestre o belíssimo "The road to Escondido", obra derradeira e de despedida, uma honra e excepção pois Cale gostava era de trabalhar a solo escondido no seu cantinho, assim se passou com os seus 14 álbuns de estúdio em mais de quatro décadas de carreira...
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JJCale |
Ainda me lembro daquela longínqua manhã adolescente em que, como habitualmente, de indicador suspenso a um centímetro do botão de gravação aguardava ansiosamente pelo final do noticiário e pela voz do saudoso Jaime Fernandes que iria dizer como sempre "Bom dia! Nesta edição de DOIS PONTOS iremos ficar com...." E naquela manhã iríamos ficar com um tal de Jay Jay Cale, pelo menos foi assim que o meu ainda incipiente inglês descodificou e assim o escrevi no meu caderno de matemática, para mais tarde lembrar. Por vezes deixava o programa a gravar na cassete de ferro barata e ia fazer as outras coisas que se faziam quando se tinha 16 anos e que já não me lembro quais eram, mas naquela manhã fiquei colado às colunas da aparelhagem porque delas saiam umas guitarras deslumbrantes e uma voz doce e tranquila mas segura e irresistível... E depois no final da hora lá tinha dito o Jaime: "Hoje nesta primeira hora de DOIS PONTOS tivemos "Jay Jay Cale" e os álbuns Naturally e Troubador"...
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Cale's of my collection... |
E claro, na primeira oportunidade quando fui a Torres, em aulas ou em vadiagem, vá lá agora saber-se, a primeira coisa que fiz foi demandar a loja de discos do Porfírio, o homem que conhecia tudo o que era banda e LP's e perguntar-lhe.
- "Ouve lá, tens alguma coisa de um tal Jay Jay Cale?"
E ele ficou a olhar para mim sem dizer nada... Claro, o homem era pouco conhecido, eu assim não iria lá e só me ocorreu escrever num papel o nome do artista...
- Não me diz nada... Onde é que foste buscar isto?
- Eh pá! Ouvi-o há uns dias na rádio! Tem uma canção assim, deves conhecer: - nã nã nã nããaa... nã nãaa nãaaaa! nã nã nã nãaaa... nã nã nã nã!
A minha exibição deve ter sido horrorosa porque o Porfírio continuava impassível e sem perceber nada, culpa da minha fraca prestação vocal e a coisa só se resolveu passados uns dias quando lá voltei com a bendita cassete que tinha gravado e então sim, quando ouviu os primeiros acordes do Cocaine sorriu e disse:
- Oh! Então isto é o Cocaine do Eric Clapton!!! Quer dizer, o Clapton tem uma versão ao vivo espectacular desta canção! - e desapareceu por uns momentos para trazer na mão o "Just one night" - Um dos melhores álbuns ao vivo! - quase gritou, entusiasmado... - Mas sim, a canção é desse tal J.J. Cale, agora não tenho nada dele aqui, vende-se pouco, mas posso encomendar se quiseres...
E assim foi, o primeiro vinil que tive do Cale foi o Grasshopper, encomendado pelo Porfírio, mas outros se seguiram, felizmente...
Cocaine - J.J. CALE
João Sem Dó
(Musicólogo de Valmedo)
És o maior...
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