domingo, 26 de julho de 2020


EFEMÉRIDE # 76


O MÚSICO ATRÁS DA CORTINA...

Há precisamente 7 anos anos atrás partia deste mundo J.J.CALE, serenamente e sem alarido como ele sempre fez questão de levar a sua existência, ele que era visceralmente alérgico à fama e às luzes da ribalta e de tal forma assim era que foi necessário outros músicos tocarem as suas canções para que se tornasse conhecido, especialmente Cocaine e After Midnight por Eric Clapton mas também Call me the breeze ou I got the old blues pelas mãos dos LYNYRD SKYNYRD... De resto, também o grande Johny Cash, Tom Petty, Santana ou os Allman Brothers, entre outros, não resistiram a tocar a sua música tão serena por vezes quanto ritmada noutras, uma original miscelânea de blues, country e jazz... Guitarrista exímio como era estava destinado a tornar-se uma inspiração e uma lenda para outros grandes músicos como Mark Knopler ou Neil Young, e claro com destaque para o seu fã número um, Clapton, que em 2006 ainda foi a tempo de gravar a meias com o mestre o belíssimo "The road to Escondido", obra derradeira e de despedida, uma honra e excepção pois Cale gostava era de trabalhar a solo escondido no seu cantinho, assim se passou com os seus 14 álbuns de estúdio em mais de quatro décadas de carreira...


JJCale

Ainda me lembro daquela longínqua manhã adolescente em que, como habitualmente, de indicador suspenso a um centímetro do botão de gravação aguardava ansiosamente pelo final do noticiário e  pela voz do saudoso Jaime Fernandes que iria dizer como sempre "Bom dia! Nesta edição de DOIS PONTOS iremos ficar com...." E naquela manhã iríamos ficar com um tal de Jay Jay Cale, pelo menos foi assim que o meu ainda incipiente inglês descodificou e assim o escrevi no meu caderno de matemática, para mais tarde lembrar. Por vezes deixava o programa a gravar na cassete de ferro barata e ia fazer as outras coisas que se faziam quando se tinha 16 anos e que já não me lembro quais eram, mas naquela manhã fiquei colado às colunas da aparelhagem porque delas saiam umas guitarras deslumbrantes e uma voz doce e tranquila mas segura e irresistível... E depois no final da hora lá tinha dito o Jaime: "Hoje nesta primeira hora de DOIS PONTOS tivemos "Jay Jay Cale" e os álbuns Naturally e Troubador"...


Cale's  of my collection...

E claro, na primeira oportunidade quando fui a Torres, em aulas ou em vadiagem, vá lá agora saber-se, a primeira coisa que fiz foi demandar a loja de discos do Porfírio, o homem que conhecia tudo o que era banda e LP's e perguntar-lhe.
- "Ouve lá, tens alguma coisa de um tal Jay Jay Cale?"
E ele ficou a olhar para mim sem dizer nada... Claro, o homem era pouco conhecido, eu assim não iria lá e só me ocorreu escrever num papel o nome do artista...
  - Não me diz nada... Onde é que foste buscar isto?
  - Eh pá! Ouvi-o há uns dias na rádio! Tem uma canção assim, deves conhecer:  -  nã nã nã nããaa... nã nãaa nãaaaa! nã nã nã nãaaa... nã nã nã nã!
  A minha exibição deve ter sido horrorosa porque o Porfírio continuava impassível e sem perceber nada, culpa da minha fraca prestação vocal e a coisa só se resolveu passados uns dias quando lá voltei com a bendita cassete que tinha gravado e então sim, quando ouviu os primeiros acordes do Cocaine sorriu e disse:
  - Oh! Então isto é o Cocaine do Eric Clapton!!! Quer dizer, o Clapton tem uma versão ao vivo espectacular desta canção! -  e desapareceu por uns momentos para trazer na mão o "Just one night" - Um dos melhores álbuns ao vivo! - quase gritou, entusiasmado... - Mas sim, a canção é desse tal J.J. Cale, agora não tenho nada dele aqui, vende-se pouco, mas posso encomendar se quiseres...
  E assim foi, o primeiro vinil que tive do Cale foi o Grasshopper, encomendado pelo Porfírio, mas outros se seguiram, felizmente...

                                                                                                                 Cocaine - J.J. CALE

João Sem Dó
(Musicólogo de Valmedo)

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