sábado, 4 de julho de 2020

CURIOSIDADES DO MUNDO-CÃO - XXV


DEUSES, HERÓIS E TARADOS!

OU

COMO APOLO NÃO MERECIA A COROA DE LOUROS...


É sabido que o OLIMPO era um autêntico manicómio tantas são as manias e taras exibidas pelas divindades, desde os mais poderosos e populares aos mais tímidos ninguém aturava ninguém no reino de  ZEUS tantas eram as guerras entre os Deuses alimentadas pela ira, pela cobiça, pela inveja ou por simples maldade, e se o reles e simples mortal cá em baixo bastas vezes já não é flor que se cheire e não passa de uma caricatura da imperfeição então imagine-se a horrorosa vida na morada divina em que tudo é elevado a um expoente supranatural, afinal a vida de um ser divino pode não ser assim tão boa nem fácil... É que pelos vistos e feitas as contas, a única coisa que diferencia um deus de um simples mortal é o poder porque os defeitos são os mesmos num e noutro e apenas um pequeno pormenor faz a diferença, é que esse nefasto poder do qual alguns deuses manientos têm à sua disposição pode ser mil vezes mais cruel do que as maldadezinhas levadas a cabo por um simples mortal...

"Apolo e Daphne" - Jonhn William Waterhouse

Veja-se a história da desgraçada DAFNE, uma bela ninfa que por gostar acima de tudo da liberdade tinha decidido não corresponder a nenhuma das muitas paixões masculinas que ia despertando, e assim, solteira e boa rapariga ia vivendo feliz em plena natureza, nadando pelos rios, passeando pelos prados e caçando veados pelas florestas da Tessália, mas um dia a sua doce existência teve um dramático fim, culpa da inveja e orgulho divinos... Ora a APOLO, que era simplesmente o mais belo, um dos mais poderosos e o mais venerado deus do Olimpo logo a seguir a Zeus e que era o patrono de tudo e mais alguma coisa, ele é o Deus do Sol, da Beleza, do Espírito, dos Rebanhos e da Profecia, já para não falar também das Artes como a Pintura, a Poesia e especialmente a Música e à qual pediu emprestado a lira, o símbolo que o acompanha em todas as suas aventuras, era reconhecida grande mestria como arqueiro pois com as suas flechas tinha exterminado monstros e gigantes e como um descomunal orgulhoso que era não gostou nada de ver EROS a lançar flechas de amor a quem passava e vai daí, com soberba, provoca com desdém o deus do Amor dizendo-lhe que não tinha capacidade para manejar o arco, isso era coisa apenas para o imbatível Apolo... 

"Apolo e Daphne" - Bernini, 1622, mármore - Galeria Borghese, Roma

Ora EROS ficou colérico e a vingança não demorou, atingiu DAFNE com uma flecha de chumbo para obrigá-la a recusar qualquer investida amorosa e feriu APOLO com uma seta de ouro provocando nele uma intensa paixão pela musa que a partir daí passou a persegui-la de tal modo que também poderia ser considerado o deus do Assédio Sexual e dos Perseguidores... E claro, quem pagou foi quem nenhuma culpa tinha no meio daquela trapalhada de egos celestiais, a bela, inocente e infeliz DAFNE que ao recusar todas as investidas e fugindo de Apolo com todas as suas forças, ao sentir-se quase apanhada e certamente violada preferiu invocar forças mágicas e transformar-se numa árvore: o LOUREIRO...  APOLO, rejeitado mas não convencido e para se lembrar daquela paixão fez então com as folhas de louro uma coroa que ainda hoje usa na cabeça e que se tornaria com o tempo no símbolo de vitória para imperadores, generais ou poetas e ainda hoje, em qualquer ramo da actividade humana, os vencedores são laureados, isto é, recebem os louros!  E de todos os laureados aquele que talvez menos mereça a coroa de louros seja mesmo o caprichoso Apolo... 


João das Boas Regras
(Sociólogo de Valmedo)

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