A MAGIA DA LENTIDÃO
"(...) O homem inclinado para a frente na sua motorizada (ou bicicleta) só pode concentrar-se no segundo presente do seu voo, agarra-se a um fragmento do tempo cortado tanto do passado como do futuro; é arrancado à continuidade do tempo; está fora do tempo; por outras palavras, está num estado de êxtase; nesse estado, nada sabe da sua idade, nada da mulher, nada dos filhos, nada das suas preocupações e, portanto, não tem medo, porque a fonte do medo está no futuro, e quem se liberta do futuro nada tem a temer.
A velocidade é a forma de êxtase com que a revolução técnica presenteou o homem. Ao contrário do motociclista (ou ciclista), quem corre a pé continua presente no seu corpo, obrigado ininterruptamente a pensar nas suas bolhas, no seu ofegar, quando corre sente o seu peso, a sua idade, mais consciente do que nunca de si próprio e do tempo da sua vida. Tudo muda quando o homem delega a faculdade da velocidade numa máquina: a partir de então, o seu próprio corpo sai do jogo e ele entrega-se a uma velocidade que é incorpórea, imaterial, velocidade pura, velocidade em si mesma, velocidade êxtase."
in " A lentidão", Milan Kundera
Se quem depressa vive cedo se cansa e se quem rápido caminha menos vê, porquê acelerar o ritmo das coisas? Porque terá desaparecido o prazer da lentidão? Porque estamos sempre metidos numa luta insana contra o relógio e contra o tempo? A lentidão permite por vezes o controlo emocional, leva à meditação e ao equilíbrio, porque será hoje tão ingrata aos olhos desta sociedade frenética? Por exemplo, porque é que a ociosidade se tornou hoje em dia um anátema? Porque é tão mal vista a preguiça, essa lenta forma de viver que tanto prazer pode proporcionar?
Cada um escolhe o seu ritmo de viver mas no que diz respeito à corrida, corrida de lazer, bem entendido, convém ser lento, é necessário ser Talento para Correr e os benefícios para a saúde até são superiores, dizem os entendidos...
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