LIVROS 5 ESTRELAS - II
QUANDO A VIDA EMBEBEDA...
Esta é a história (versão curta) de um livro excepcional que demorou 52 anos (!) até ver a luz do dia... Mais tarde do que nunca, é certo, diz a velha voz, mas que desperdício... STEFAN ZWEIG começou a escrever "A embriaguez da metamorfose" em 1930 e, passado um ano apenas, estava concluída a primeira parte da obra mas, por contingências várias e nada normais, só oito anos passados o autor retomaria a trama, já exilado em Londres e fugindo do anátema nazi... Demorou ainda mais dois anos até a obra ficar completa mas, tendo querido Zweig ainda reformular algumas passagens e o final, o livro ficaria em stan-by arrumado na gaveta da sua secretária devido aos tempos conturbados que o assolavam... Esta última obra do grande romancista austríaco, que entretanto desistira deste mundo em 1942, só viria a ser publicado na Alemanha em 1982....
Exímio narrador e curioso conhecedor da alma humana, ou não tivesse ele sido amigo íntimo e admirador de Freud, Stefan Zweig conta-nos a dramática e comovente história de uma jovem funcionária da estação de correios de uma insignificante aldeia -Klein-Reifling - que, de repente, se vê confrontada com o mundo extraordinário da alta sociedade e que nunca sonhara que pudesse existir, tal era a miséria em que vivera até então... Um mundo maravilhoso é-lhe revelado então, qual ascensão ao paraíso, em que tudo é belo, tudo é pleno e onde a alegria de viver transborda... Até à queda final, ao penoso regresso à realidade...
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A caminho do Brasil... |
Não deixa de ser curioso que, só passados 40 anos da sua morte no Brasil, a meias com a sua mulher de então, se tenha revelado ao mundo essa ideia romântica patente na obra esquecida de Zweig, o suicídio a dois, a única saída digna perante o descalabro, seja a miséria no romance seja a catástrofe no mundo real... Porque o derradeiro e corajoso acto de Zweig, convencido de que todo o mundo seria de Hitler, foi o de, com toda a nobreza, renunciar a um mundo de opressão, barbárie e holocausto...
"Toda a matéria suporta um nível determinado de tensão para além da qual não é possível aumentá-la, para a água o ponto de ebulição, para os metais o ponto de fusão, e os elementos da alma não escapam a esta lei inelutável. A alegria pode atingir um grau para além do qual, qualquer aditamento já não é sentido e o mesmo se passa com a dor, o desespero, o abatimento, o desgosto, o medo. Depois de cheia até à beira a taça não aceita mais qualquer gota que o mundo nela queira despejar."
João Pena Seca
(Escritor e Crítico Literário de Valmedo)
Meu amigo James. Confesso que sinto uma enorme curiosidade de ler este livro. A condição humana face à manipulação das massas, a bebedeira de felicidade que se segue, a crendice e depois a desilução e a miséria absoluta, são a via sacra do ser humano ao longo da sua curta existência neste planeta. Mas só tu, amigo James me poderás entender.
ResponderEliminarDeste teu leitor
JC