PALADARES CANINOS...
Espreitei pela porta entreaberta da garagem e gelei instantaneamente do focinho ao rabo... Fechei os olhos e voltei a abri-los, na esperança de que tivesse sido vítima de uma alucinação, mas não, a cruel realidade ali estava para me infernizar o espírito: alguém tinha roubado toda a minha comida! Amigos caninos, há uns dias que já andava desconfiado de que alguém andava a desviar ração da minha malga e apesar de ter ficado mais alerta desde então nunca tinha conseguido apanhar o misterioso ladrão em flagrante...
É certo que uns pardais meus amigos vêm aqui visitar-me de vez em quando e, com o meu consentimento porque há que saber receber, lá dão umas bicadas no meu almoço e levam no bico meia dúzia de granulados, nada que justifique a quantidade de comida que desapareceu recentemente... E para cúmulo, amigos caninos, agora tinha desaparecido toda a saca de ração que era suposto alimentar-me no próximo mês!!! Grave, muito grave! E já imaginava o J.C a passar-me uma descompostura, do género: "Então mas que raio de cão és tu que não consegues guardar a tua própria comida?"
De rabo encolhido e hesitante aproximei-me da porta da cozinha, não havia volta a dar, tinha que avisar o J.C do crime, havia que tomar medidas para capturar o ladrão e recuperar a minha comida... E então, amigos caninos, deparei com uma cena ainda mais surpreendente e misteriosa: em cima da mesa da cozinha estava o saco da minha ração e como se não bastasse, o J.C estava tranquilamente a almoçar da minha malga! Ele era o ladrão! E tinha enlouquecido certamente, porque se não o que poderia explicar o facto de estar a comer aquilo e não aquelas comidas suculentas e bem-cheirosas que ele costumava fazer?
Eu devia estar deveras perplexo porque assim que reparou em mim o JC riu-se e disse:
- Devias ver o teu ar, James, parece que viste um fantasma! Não te preocupes, não estou maluquinho da cabeça, estou apenas a fazer uma experiência...
Devo ter continuado com o meu ar perplexo porque ele teve necessidade de se explicar ainda mais:
- Não te preocupes que não vou começar a comer da tua ração, estou só a ver se tenho o paladar apurado para concorrer a um emprego deveras original e bem pago...
- ?????
- Sim, provador de comida para cão!
Isso existe? - pensei eu, levantando as orelhas....
- É preciso avaliar o cheiro, a consistência e o sabor.... E fica sabendo que esta tua ração não é nada má, embora precisasse de um temperozito....
- Podemos trocar de comida, tu passas a comer da minha ração e eu como dos teus petiscos... - preparava-me eu para dizer mas...
- Não fiques com ideias, isto só vai acontecer quando comprarmos uma ração diferente para ti; e podes ficar agradecido, não é qualquer cão que tem um provador assim à disposição...
E assim vai o mundo dos humanos, amigos caninos, cada vez mais estranho...
James
(Cão de Valmedo)
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