NÃO TEM DENTES? ARRANJE UMAS MOELAS!
Toda a gente sabe que as aves não têm dentes mas talvez nem todos saibam que isso se deve a uma adaptação evolutiva ao voo, ou seja, para alcançar as melhores condições fisiológicas para voar tiveram que dizer adeus a uma bela dentadura! Isto é o que nos diz a ciência mas agora uma pungente dúvida se levantou na minha cabeça, então porque raio é que a Força Aérea Portuguesa, em meados de 80, era eu adolescente pronto para ser herói de algo que não sabia o quê, só admitia candidatos que tivessem a estrutura dental imaculada? Juro, é verdade verdadinha que na Junta de Freguesia dos Parceiros encontrei na altura um cartaz da FAP a solicitar candidaturas a piloto-aviador desde que se tivessem todos os dentes e em condições... Que raio, penso eu agora, as aves perceberam há milhões de anos que só voa bem quem não tem dente algum e agora vêm estas sumidades científicas exigir os dentes todos e ainda por cima sem cárie? Claro que, jovem e inocente na altura, sofri um abalo e, sem um molar arrancado a ferros no Posto Médico de Alcanena e queixoso de uma cárie há já algum tempo, abalei desolado para casa e risquei das minhas opções futuras a carreira de piloto aviador....
Hoje, passadas décadas, continuo convicto de que as aves é que têm razão, não fossem elas as verdadeiras especialistas no assunto, os dentes só servem mesmo para atrapalhar no voo....
Bom, mas o facto de abdicar dos dentes acarreta outras consequências como sejam um sistema digestivo diferente e a condizer.... Tudo começa no bico,, estrutura córnea que funciona como uma tesoura poderosa que consegue agarrar e partir a casca de muita semente, continua no esófago, tubo semelhante ao dos mamíferos e que, a meio do seu percurso, forma uma estrutura em forma de saco - o papo - antes de continuar até ao proventrículo e à MOELA., esse sítio onde se mói... Estar no papo é ter algo garantido e, de facto, o papo das aves serve simplesmente para lhes guardar a refeição até estarem em lugar seguro! Depois, tranquilamente, a refeição já humedecida e amolecida desce até ao proventrículo, a primeira parte do estômago, onde enzimas digestivas actuam quimicamente sobre os alimentos e depois, na MOELA, a segunda parte do estômago, uma estrutura muscular de paredes grossas, onde se dá lugar a uma intensa trituração mecânica, muitas vezes com a ajuda de GASTROLITOS, pequenas pedras ingeridas pelas aves com o intuito de desfazer os alimentos e que, afinal, substituem os dentes perdidos há milhões de anos atrás!.... Daí chamar-se à moela o estômago mecânico! E aí estão de volta os dentes das aves e, quem ainda não pensou nisso, em vez de gastar uma fortuna na reabilitação da dentadura porque não ingerir uma boa porção de gastrolitos para ajudar à digestão?
Mas as moelas, por curioso que pareça, não são exclusivas das aves, também peixes, répteis, crocodilos e as têm! E até os dinossauros as tiveram e depois é extraordinário como por todo o mundo, seja pelas festas populares de Portugal de lés a lés, seja nas mais longínquas paragens como a Ásia ou as Améericas, as moelinhas são um petisco gostoso e apetecido, mas nenhuma forma de as cozinhar, nenhuma mesmo, chega às moelas de Valmedo..... desde que haja apetite....
E a última benesse da existência das moelas prende-se com isto:
MOELAS À VALMEDO
Ingredientes:
1 Kg de moelas
1 Kg de batata doce
3 tomates maduros
1 cebola grande
4 dentes de alho
1 cerveja
1 copo de vinho branco
azeite q.b
1 folha de louro
sal e pimenta, q.b.
coentros, q.b
2 litros de água
Preparação.
- Pré aquecer o forno a 150 graus;
- Limpar as moelas de milho e gastrólitos em água corrente e abundante dar-lhes uma boa fervura (30 minutos) em 2 litros de água;
- Cortar as moelas em pequenos pedaços e reservar;
- Descascar as batatas doce e cortá-las em tiras o mais finas possível; pincelá-las com azeite e levar ao forno por 15 minutos;
- Refogar a cebola e o alho num generoso fio de azeite; temperar com sal e pimenta;
- Virar as batatas e programar o forno por mais 50 minutos a 100 graus até as batatas ficarem crocantes,
- Juntar as moelas ao refogado, envolver muito bem e deixar cozinhar por 5 minutos;
- Juntar a cerveja e o vinho branco, misturar tudo e deixar cozinhar em lume baixo por mais 30 minutos, deixando apurar até o molho estar reduzido e consistente; não esquecer de ir mexendo frequentemente...
- servir com coentros frescos picados e a batata doce crocante.....
O acompanhamento pode ser qualquer um mas aqui casa muito bem cerveja fresquíssima...
João Ratão
(Chef de Valmedo)
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