O HOMEM E O MAR
Homem livre, o mar tu adorarás sempre,
o mar é o teu espelho, a tua alma sondas
no infinito desenrolar das suas ondas,
e o teu espírito não é um precipício menos pungente.
Gostas de mergulhar na tua própria imagem,
tu a abraças com os olhos e os braços, e o teu coração
até por vezes do seu próprio bater se distrai então
com o rumor desse queixume indomável, selvagem.
Sois ambos discretos e tenebrosos,
Homem, ninguém sondou as tuas profundezas,
Ó mar, ninguém conhece as tuas secretas riquezas,
tanto que sois dos vossos segredos ciosos.
E porém, desde há séculos incontáveis
que os dois vos combateis sem remorso nem piedade,
de tal modo gostais da morte, da crueldade,
Ó lutadores eternos, irmãos implacáveis!
Charles Baudelaire, "As Flores do mal", 1857
(Tradução livre de J.C, poeta de Valmedo)
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