EFEMÉRIDE # 1 - O HERÓI ORDINÁRIO
Há precisamente 112 (!) anos, no dia dia 16 de Junho de 1904, aconteceu a invulgar odisseia de Leopold Bloom, um experiente e acomodado publicitário de Dublin, numa luta insana e heróica entre a vontade do compromisso e a esterilidade da existência.... Tudo seria mais simples se Bloom não passasse de uma invenção de James Joyce, mas o problema interessante é que essa personagem incarna ULISSES, o herói de HOMERO, na mítica aventura ODISSEIA...
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Homero |
Resumidamente, a Odisseia relata as aventuras e provações pelas quais passou ULISSES, herói grego, na demanda da sua viagem para casa após o términus da Guerra de Tróia, aventura essa que durará 10 (!) anos de luta perante as adversidades não só naturais mas também aquelas provocadas pelas divindades invejosas... É que o nosso herói acabará por regressar aos ansiosos braços de PENÉLOPE, a sua obstinada e fiel esposa, ao contrário de Bloom que, apesar da sua luta diária e persistente terá à sua espera uma traidora e compulsiva companheira. ...
Dez anos resumidos a um dia de existência, assim alguns poderão sintetizar a trama de Ulisses, mas é bastante mais do que isso.... O maior romance do século XX, assim foi catalogado por muitos, uma leitura exigente e recompensadora considerada por muitos outros, mas eu, sinceramente, achei uma leitura demasiado complexa e inacessível (as grandes obras são para toda a gente, certo?) que acabou por redondar numa grande desilusão!... Ainda hoje é dos poucos exemplos em que não me é possível tentar uma releitura ainda que parcial para aprofundar e redescobrir a obra... E garanto, já tentei demasiadas vezes....
O Ulisses de Joyce foi bem vendido como uma obra imortal, tudo bem, respeite-se, mas na minha modesta opinião não passa de uma obra chatérrima...!
O Ulisses de Joyce foi bem vendido como uma obra imortal, tudo bem, respeite-se, mas na minha modesta opinião não passa de uma obra chatérrima...!
Demasiada complexidade, demasiada exigência, demasiada frustração com a leitura.... Embora seja sedutora a ideia do relato de um dia de vida de um herói moderno, especialmente quando na modernidade não há lugar para grandes feitos ou heroísmos de monta, o resultado final acaba por ser uma maçadora exposição das técnicas linguística e expressiva.... Na minha singela apreciação, um romance gigantesco (no tamanho também) mas chato, inconsequente, como todos aqueles que pretendem ser técnicos ao extremo mas que acabam por ser pouco tocantes.... Até pode ser aquela obra que revolucionou a forma de escrever ou abriu espaço a novas técnicas de expressão, tudo bem, mas, porque demasiado complexo e erudito, nada acrescentou ao meu prazer da leitura,,, E apesar da monotonia e da complexidade resisti a não desistir, fui um herói moderno que conseguiu ler o Ulisses, mas no final senti que fiz uma maratona para pouco prémio...
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James Joyce |
Poder-se-á sempre argumentar que se não apreciamos ou entendemos ou valorizámos uma determinada obra isso se poderá dever às nossas insuficiências, de acordo, mas uma obra que é considerada a melhor de um século terá que cativar para além disso, e este não é seguramente o caso.... O que leva à questão seguinte: estará o problema na avaliação dos críticos especializados?
Finalmente, fica a ideia genial do autor: há ainda lugar para heróis ou façanhas heróicas nos tempos modernos? Ler o Ulisses de uma assentada é uma façanha ao alcance de poucos heróis...
João Breve
(Cronologista de Valmedo)
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