A INDIFERENÇA E O EQUILÍBRIO MENTAL
2016
SARA DI PETRANTONIO, 22 anos, estudante, morre em Roma. corria o domingueiro 29 de Maio. Enquanto conduzia numa estrada periférica da capital italiana foi atacada pelo ex-namorado, o qual, inconsolado pela recente separação, não foi de modas e, regando-a com álcool, teve ainda o atroz discernimento para lhe pegar fogo com o isqueiro...
Para além de ter sido queimada viva, Sara teve ainda outra experiência inusitada, a de pedir suplicantemente ajuda aos condutores que passavam no local e, ora porque apressados para compromissos deveras importantes ora porque não tiveram a lucidez suficiente para entender a realidade, nem um deles teve tempo ou vontade para parar e prestar auxílio, assim revelam as chamadas câmaras de segurança e vigilância aí instaladas que se limitaram a registar a carbonização da jovem e da sua viatura... Quem sabe se, ao invés da INDIFERENÇA, alguém tivesse parado para auxiliar e hoje Sara ainda estaria viva?....
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Sara Di Petrantonio |
1957
LEON FESTINGER, 38 anos, psicólogo social da Universidade de Stanford, Estados Unidos, apresenta a sua "TEORIA DA DISSONÂNCIA COGNITIVA", um dos mais relevantes estudos sobre o comportamento humano feitos até hoje!
A teoria é assustadoramente simples: o nosso cérebro tem de estar em EQUILÍBRIO entre as nossas crenças, ideias e pensamentos e o nosso COMPORTAMENTO, quando nós fazemos algo que é contrário à nossa matriz de valores entramos em DISSONÂNCIA, ou seja, um estado de contradição intolerável para o nosso cérebro! E aí, só existem 2 soluções: ou se muda o comportamento ou se mudam os valores, mas como o comportamento é muito mais difícil de mudar (devido essencialmente ao prazer sensorial das coisas "boas da vida") o que é assustadoramente comum é que se mude a atitude mental!!!
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Leon Festinger |
Um dos exemplos mais famosos desta teoria é a do caso dos fumadores:
- alguém que fuma experimenta a dissociação cognitiva, ouve falar dos riscos para a saúde, das probabilidades enormes de contrair cancro do pulmão e então a solução mais óbvia é DEIXAR DE FUMAR!!!!
- mas como o comportamento é muito difícil de alterar, o mais comum é o fumador alterar as suas crenças e ideias por forma a sustentar uma atitude contrária às evidências: se deixar de fumar vou ganhar 20 Kgs e tornar-me menos "sexy", vou ficar mais intolerante, afinal quem me diz que não posso morrer de outra coisa qualquer do que pelo tabaco? E o bem que um cigarrito me sabe depois de uma almoçarada? Valerá a pena tanto sacrifício? E depois conheço não sei quantas pessoas que fumaram até aos aos 80 e só morreram aos 90!...
TUDO VALE PARA MANTER OS HÁBITOS QUE DÃO PRAZER APESAR DA CONSCIÊNCIA DIZER QUE SÃO NEFASTOS, GOZEMOS AGORA E PENSEMOS DEPOIS, A VIDA É CURTA E NINGUÉM TEM OUTRA OPORTUNIDADE.... É ISTO QUE O NOSSO CÉREBRO NOS DIZ... (pelo menos alguns...)
Ora, está claro que todos os condutores que passaram pela Sara Petrantonio em chamas sofriam de dissonância cognitiva, eles "viram" uma jovem a ser imolada pelas chamas mas, de acordo com as suas crenças e experiências de vida, provavelmente entenderam a situação como normal, que poderia ser alguma brincadeira pirotécnica ou até uma encenação de alguém perturbado que devesse estar num hospital psiquiátrico... E depois haveria que sair da zona de conforto, do comodismo, do não se ralar, outros que o façam...
Produto dos tempos modernos, poderíamos dizer... Mas infelizmente, talvez seja a pior característica da humanidade nos tempos que correm, a alienação, a indiferença....
E desde que o nosso equilíbrio mental se mantenha, ainda que em bases falaciosas, todo o mundo que nos rodeia se apresentará paradisíaco....
João das Boas Regras
(Sociólogo de Valmedo)
Produto dos tempos modernos, poderíamos dizer... Mas infelizmente, talvez seja a pior característica da humanidade nos tempos que correm, a alienação, a indiferença....
E desde que o nosso equilíbrio mental se mantenha, ainda que em bases falaciosas, todo o mundo que nos rodeia se apresentará paradisíaco....
João das Boas Regras
(Sociólogo de Valmedo)
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