A MELHOR FORMA DE LIXAR O MEXILHÃO - I
Hoje, ao mirar a banca do peixe fresco de uma superfície comercial, dou de caras com uns belos exemplares de Mytilus galloprovincialis (que é como quem diz o belo do MEXILHÃO) aconchegados nuns práticos saquinhos de rede, aguardando que alguma alma faminta lhes desse um destino a condizer.... Mas o mais surpreendente era o preço das criaturas bivalves: 1.24 euros/Kg!
Ora, se tivermos em conta que o mexilhão entra na "petiscologia" da humanidade há séculos (a primeira referência à sua cultura em viveiros data do séc. XIII em França) podemos, pensando no trajecto desde o habitat até à mesa, comparar os sacrifícios feitos pelos nossos antepassados com as facilidades da sociedade actual... Até pode ser desafiante e estimulante andar de vez em quando, na maré vazia e de rabo alçado, armado de naifa à cata do mexilhão nas rochas (como imortalizou um RENOIR impressionado pela faina) mas hoje, nesta era de consumo imediato em que o tempo às vezes parece valer dinheiro, torna-se inevitável e irresistível abdicar dessa aventura e pescá-los antes na banca do supermercado, para aí a uns 5 cêntimos a unidade!....
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Renoir - "Os pescadores de mexilhão" |
E se quando o mar bate nas rochas quem se lixa é o mexilhão eu entendo que, lixado por lixado, a melhor maneira de lixar o molusco é na panela, à bela maneira francesa e belga (países onde é mais dado o merecido valor à iguaria), onde se transformam em "DES MOULES"... Este prato que é uma verdadeira instituição francesa e flamenca com séculos de vida apareceu nas tascas da região parisiense trazido pelos marinheiros franceses e belgas que aportavam vindos do Norte através dos rios Sena e Marne. Por isso "Des Moules" também se chama "MOULES À LA MARINIÉRE", mexilhões à marinheira...
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Gustave de Smet - "Os comedores de mexilhão" |
João Ratão
(Chef de Valmedo)
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