segunda-feira, 4 de janeiro de 2016



                                         Longos dias


Já não busco sentido nem razão
para o vazio que por aqui deixaste
e num despertar sempre doloroso
valem-me as memórias que não levaste,
porque longos são os dias sem discussão
se a culpa era da lentidão do cardozo
ou da falta de craques no miolo,
e tu brincando com ar de gozo:
"não inventes, não sejas tolo..."
e às vezes só para te provocar
para mim o treinador é que era besta!
Mas depois abalávamos em festa
para o tó, para a rulote, para a catedral,
sai caneca sai febra sai coirato,
que interessa quem era menos sensato?  
Era a chama, a alegria, a partilha afinal,
até nos dias maus havia que celebrar,
entra mais um copo sai outro disparate,
valia tudo menos jogar pró empate
que amanhã ninguém se irá lembrar....
Oh! Pudesse eu dar-te um dia do meu tempo
para te ter aqui por uns instantes
e com isso retribuir-te o alento
que me trazias com um sorriso aberto,
teríamos a desforra do tempo roubado
e se pouco neste mundo parece certo
nada do que vivemos foi errado...
"Agora é a minha vez, não te levantes..."
a recordação está fresca mas não mata a sede,
a bola era boa mas ficou na rede,
o court está vazio, o mundo mudou,
faltas tu agassi, sampras já não sou,
dupla falta, longos sets no sobral,
a corda partiu, tivemos a ilusão
de rolland garros, o sonho numa mão,
da minha raqueta há muito arrumada
já não sai volley nem chapéu,
talvez quando no além te tornares real
e ao grande mistério cair o sinuoso véu
e se aí, na Luz, se sentir a nossa falta,
por um minuto ou por uma vida inteira
toca a reunir, juntemos a malta,
façamos o destino ser de outra maneira...





J.C

(Poeta de Valmedo)

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