A ARTE ABSTRACTA
Amigos caninos, que saudades vossas eu já tinha e bem sei que me tenho desleixado um pouco mas quero dizer-vos que a minha prolongada ausência se deve ao facto ter andado nos últimos tempos entusiasmado e ocupado com a eventualidade de me tornar um artista, isso mesmo, leram bem, um ARTISTA de pêlo e osso!
Tudo aconteceu por um daqueles acasos engraçados que podem mudar a nossa maneira de ver o mundo e as coisas, aproveitando uma incursão pela casa da família dei de caras com o JC ao computador a olhar fixamente para uma menina pousada numa rocha sobre a água.
- James, que tal, parece-te a mesma figura? - perguntou-me ele enquanto me mostrava um papel que até então me passara despercebido. Sinceramente, o desenho que ele me mostrou não me pareceu tão interessante quanto a estátua que brilhava no ecrã e a única coisa que fiz foi um levantar de orelha duvidosa. Ele pareceu satisfeito com a resposta porque continuou:
- Sabes, isto da arte é tramado, não basta saber desenhar ou pintar na perfeição, isso muito boa gente faz e não passa de artista de rua, é preciso algo de especial e original para ser reconhecido e às vezes não se percebe a razão porque a originalidade é tanta que ninguém entende a obra, então há cada abstracção.... Olha só para isto....
E foi enquanto o JC procurava algo para me mostrar que eu, sem querer, juro solenemente, ao erguer-me para ficar ao nível das imagens pousei as patas dianteiras sobre o desenho e lá cai papel no chão. Naquela atrapalhação toda, e tentando apanhar o papel para o devolver, unhas para lá, dentes para cá, aquela obra única transformou-se em cinco ou seis obras mais pequenas.
- Eh! Sai, bicho! - gritou-me ele. - Olha o que fizeste à minha sereia! Levas nesse focinho!
E meus amigos, quando ele me chama "bicho" é porque a coisa ficou séria!
- Não dá para colar? - perguntei-lhe eu com os olhos. Mas ele nem ouviu.
- A tua sorte é que eu já tinha copiado isto senão ias ver... - dizia ele enquanto me esfregava os papéis no nariz...
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"A Pequena Sereia" - James |
E foi então que algo aconteceu. Ao tentar juntar tudo exclamou o J.C:
- Espera lá! Até que fica uma bela arte abstracta! E não é que assim a sereia parece dacapitada como na realidade aconteceu em várias ocasiões. Está visto que tens queda para artista, James. Não sei é se serás algum dia tão famoso como a ARBOR, o cão pintor mais famoso do mundo, mas que isto ficou melhor que muito boa arte que anda por aí...
E foi então que ouvi a comovente história de vida desse nosso amigo canino de Las Vegas. Arbor é na realidade uma cadela e foi resgatada das ruas para um canil e mais tarde adoptada por um casal, o qual algum tempo depois reparou no seu dom para a pintura. Daí até se tornar um artista famoso foi um ápice e agora as suas telas chegam a valer 400 dólares cada, com a particularidade do dinheiro dessas vendas ser canalizado para instituições de auxílio a cães abandonados. Eu próprio, se tivesse dinheiro comprava-lhe uma pintura e até não me importava de a conhecer pessoalmente para trocar umas impressões sobre esta vida de artista que me sinto tentado a seguir, além disso é sempre bom conviver com personagens dotadas e atraentes....
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Arbor |
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Improvisação sonhada, Kandinsky, 1913 |
JAMES
(Cão de Valmedo)
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