CUBRES, AMÊIJOAS E CAFÉ
Depois de longo tempo abafados por um denso nevoeiro que obrigava a redobrados esforços na condução e que não permitia sequer vislumbrar a Graciosa mesmo ali ao lado, abandonámos a estrada regional que bordeja a costa norte da ilha e iniciámos a abrupta e perigosa descida para a Fajã dos Cubres...
- Será que vale mesmo a pena? Descer lá abaixo e depois não ver nada? - questionava a N., temerosa, mas a temerária decisão estava tomada:
- Olha vês? O carro virou sozinho, ele é que tomou a decisão, já deve estar habituado a isto! - mas a suposta piada nem um tímido sorriso arrancou - Vamos e pronto, a pior coisa que pode acontecer é voltar para trás sem ter visto nada de jeito, há que arriscar... - mas a parte final da frase já me saiu com menor entusiasmo...
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"Cubres & lagoa" - Jean-Charles Forgeronne |
E à medida que íamos descendo crescia o horizonte e a luminosidade, afinal sempre iriamos ver alguma coisa! E o que víamos? Verde e mais verde a ladear a sinuosa estrada e uma luxuriante vegetação a escorrer pelas falésias a pique, e lá em baixo, abraçando as lagoas e espalhado por toda a pequena planície, o verde vivo e rasteiro dos cubres, uma espécie de nome científico Solidago sempervirens, esquisito como todos os nomes científicos, e é uma planta cujo caule pode atingir os 60 centímetros de altura e donde irradiam numerosas folhas apiculares...
Mas para além do facto de ser uma planta presente em todas as ilhas dos Açores, uma das principais características dos cubres são as inúmeras e pequenas flores que brotam dos seus caules e pintam todo o cenário de amarelo, mas ainda é cedo, nesta excursão por São Jorge ainda estava tudo demasiado verde... E ali, com a tão próxima mas para nós inacessível Caldeira do Santo Cristo a espreitar, o único local nos Açores onde se criam amêijoas, mas para atenuar a desilusão não é que é mesmo aqui, em plena Fajã dos Cubres, o local ideal para degustar essas amêijoas? Ali em cima, diante da igreja, lá está o café-restaurante que as serve, infelizmente ainda é cedo e o almoço já está reservado para o Topo, onde ainda reina o nevoeiro... Fica para a próxima...
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"Café açoriano" - Jean-Charles Forgeronne |
Mas ainda antes do almoço e até porque a manhã só ia a meio demandamos a Fajã dos Vimes, famosa pelo seu café! De facto, é ali o único local onde se cultiva café em todos os Açores! E lá chegados é só ir até ao Café Nunes e degustar o dito, para além de ser possível também visitar as plantações... Reza a lenda que no século XIX um emigrante açoriano trouxe do Brasil umas sementes de café arábica e que graças ao especial microclima da Fajã dos Vimes prosperou até aos dias de hoje... E que o café é delicioso lá isso é, é especial mesmo, afianço...
João Palmilha
(Viajante de Valmedo)
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