quarta-feira, 11 de setembro de 2024

 

UMA VAREJEIRA NO MOSQUITÓDROMO


Este ano os reis da Festa foram os mosquitos, pequeníssimos e de um verde quase transparente, apenas detectáveis em contra-luz e já depois de se terem banqueteado, eram aos milhares, sem exagero talvez aos milhões tantas foram as pobres vítimas, que o diga o Perdigão, doce e corajosa criatura que ao ter o nobre gesto de dar o peito aos sanguinários insectos para nos proteger, a mim e ao Andarilho, lhe valeu uma visita ao Posto de Saúde, regressando ao Oeste com mais uns quilos de inchaço em cima... 
Para o ano, ia eu dizendo enquanto ele de ar infeliz se coçava desalmadamente durante a viagem de regresso, viremos munidos de toneladas de repelentes e redes mosquiteiras... 



Mas outro insecto pairou pelas margens da lindíssima baía do Seixal, a varejeira dos Cara de Espelho, uma superbanda que este ano nos trouxe uma supermúsica de intervenção e de denúncia, uma lufada de ar fresco no panorama musical lusitano... Olha-se para o palco e chama a atenção um nicho de artefactos, são instrumentos únicos, construídos por Carlos Guerreiro, também membro dos Gaiteiros de Lisboa, depois vê-se ao fundo por detrás da bateria o Sérgio Nascimento, cara de muitos projectos como os Peste&Sida ou os Assessores de Sérgio Godinho, à direita vislumbra-se Pedro da Silva Martins, autor de todas as letras e músicas deste projecto e que é sobejamente conhecido pela sua participação nos Deolinda, para além de ser autor de inúmeras músicas de outros artistas, depois, de baixo em punho vê-se Nuno Prata (Ornatos Violeta) e de guitarra em riste lá está também Luís Martins (Deolinda)...



E claro, como não reparar na leveza da figura e na voz inebriante da Maria Antónia, assim se apresentou ela à plateia mas de nome artístico Mitó Mendes, conhecida de "A Naifa" ao lado de Luís Varatojo e João Aguardela, ela que nos avisou para o perigo da varejeira:


As varejeiras anseiam pobreza
Fomentam o asco, a náusea e o nojo
Só a miséria lhes traz opulência
Por isso é que esfregam as patas com gozo.
Se alguém as enxota, decidem zunir
Dos homens que riem da má sorte delas,
E no fim são elas que dizem a rir
"Todos sabereis à mesmíssima MERDA!"
A varejeira ligeira a voar
em qual de vós é que ela vai poisar?

                                                                                             As varejeiras - Cara de Espelho


E para o ano, claro, haverá mais convívio com livres criaturas e, oxalá, livres de mosquitos... 


João Sem Dó
(Musicólogo de Valmedo)

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