domingo, 30 de junho de 2024

 

DE VIVA E ETERNA VOZ!


Quando soube já hà algum tempo que iria haver um espectáculo comemorativo dos 20 anos do Coro Municipal da Lourinhã, através de uma mensagem facebookiana recebida da Patrícia, colega de profissão e coralista soprano do grupo há vários anos, a coisa era então "apenas" isso, uma exibição do Coro e uma noite de homenagem à sua história e de agradecimento à dedicação dos seus membros ao longo de duas décadas... E quando ontem entrei Auditório adentro sou surpreendido pelo anúncio de um convidado especial, nada menos do que Manuel Freire, esse mesmo da "Pedra Filosofal", e que segundo o maestro da companhia, Carlos Pedro Alves, era já um sonho antigo partilhar o palco com ele, muitas vezes adiado por agendas inconciliáveis... Felizmente foi desta!



"Manuel Freire com o Coro Municipal da Lourinhã" - Foto: Jean-Charles Forgeronne


A primeira parte do concerto ficou a cargo exclusivo do Coro que presenteou o público com belas harmonias oriundas de várias latitudes, já a segunda, partilhada com Manuel Freire, demonstrou à evidência que há vozes que sobrevivem à passagem dos anos, esta então, já com oito décadas de vida, arrepia de tão cristalina e poderosa como há mais de meio século atrás quando se ouviu pela primeira vez a "Pedra Filosofal", um casamento perfeito entre as palavras mágicas de António Gedeão, a harmonia e aquela voz sublime, sem favor uma das mais belas que este país alguma vez ouviu... E eu, que então menino e moço me orgulhava de cantarolar o poema na íntegra e sem saber que a canção se tinha tornado num hino da luta contra a ditadura, saí dali de alma cheia, com os primeiros versos a querer sair boca fora: 

                                    "Eles não sabem que o sonho  é uma constante da vida,
                                       tão concreta e definida como outra coisa qualquer..."

Que venham então mais vinte anos para o Coro Municipal da Lourinhã e para o Manuel Freire também, o homem da voz eterna...
                                                                                                       
                                                                                                     Pedra filosofal - Manuel Freire

João Sem Dó
(Musicólogo de Valmedo)

sexta-feira, 28 de junho de 2024

 

ESCRITO NA PAREDE - XXXV


"Paimogo"

Jean-Charles Forgeronne
(Fotógrafo de Valmedo)

domingo, 23 de junho de 2024

THE BLUE AND YELLOW SERIES

 

AZUL E AMARELO


"The devil and the skull"


"Boy watching"


"Bird at cage"



"Pregnant woman"



"Under sea"


"Outspace"


João Plástico
(Artista de Valmedo)

sexta-feira, 21 de junho de 2024

quinta-feira, 20 de junho de 2024

 

" O optimista é um tolo. O pessimista, um chato!      Bom mesmo é ser um realista esperançoso..." 


Ariano Suassuna
(Filósofo, escritor)

 

WILLEM DAFVON GOGH


Willem Dafoe, à beira dos 70 anos de existência e com 45 anos de carreira, em muitos dos mais de 100 filmes em que participou habituou-nos a grandes desempenhos de personagens ora extravagantes, ora psicóticas, ora sombrias e de tal forma as encarnou com o seu alucinado ar que parece não haver melhor escolha para esses papéis e isso torna-se ainda mais evidente no caso de Van Gogh em "À porta da eternidade", filme que Julian Schnabel realizou em 2018... O "seu" Van Gogh mereceu até a Defoe a sua única nomeação para o Oscar na categoria de melhor actor principal, antes já tinha sido nomeado 3 vezes mas para actor secundário e claro, sem surpresa nem sucesso, como convém a um negócio que vive de estereótipos de beleza e sabe-se que a Willem não assenta bem o papel de galã... Estranha premonição alguém teve ainda nos tempos de liceu ao dar-lhe a alcunha de Willem, a versão holandesa do seu nome real, William, talvez desde então estivesse escrito nas estrelas que lhe estava destinado viver na pele do louco e genial pintor holandês...           




O filme de Schnabel, para além do grande desempenho de Dafoe, apresenta outras curiosidades que enriquecem as biografias conhecidas de Van Gogh, como por exemplo a quem ofereceu ele de facto a sua famosa orelha? Ou então as causas da sua morte, terá mesmo o pintor cometido suicídio ou, como alegam alguns investigadores, terá sido vítima de um tiro acidental?  O que é verdade e mentira em toda a história? Certo é que o conhecimento que temos do pintor deriva essencialmente das cartas que trocou ao longo de anos com o seu irmão Theo, será isso suficiente para conhecer a verdadeira história de Van Gogh?


João Película
(Cinéfilo de Valmedo)

terça-feira, 18 de junho de 2024

 

VINCENT VON MCLEAN


À semelhança de Van Gogh, também Don McLean tomou o gosto ao fracasso que bastas vezes leva ao desespero e nalguns casos até à renúncia, consta que antes de conseguir lançar o seu primeiro álbum, em 1970, as suas músicas foram rejeitadas 72 (!) vezes por diversas editoras que dominavam o sistema, foi uma sorte ter aparecido na altura uma nova editora com ideias arejadas que apostou nele e em boa hora o fez porque, ao contrário do artista holandês que nunca viu o seu génio reconhecido, não passaria mais de um ano até o músico alcançar um estrondoso sucesso com o seu segundo álbum "American pie"...
Para além do célebre tema título que aborda "o dia em que a música morreu", ou seja o desastre de avião que matou Buddy Holy e Ritchie Vallens, esse mesmo do "La Bamba", "American Pie" inclui outra preciosidade, a faixa número 3, intitulada "Vincent" e que nos seus 3 minutos e 55 segundos homenageia Vincent Van Gogh...
Por essa altura Don McLean, acompanhado da sua guitarra, ganhava a vida tocando por bares e escolas e numa dessas ocasiões deparou-se com uma biografia de Van Gogh e não resistindo a lê-la, deslumbrado com a história de vida do louco e genial artista, sentiu um apelo visceral: tinha que lhe dedicar uma canção de homenagem! Diz ele que se pôs em frente de "Noite estrelada" e que absorvido pela magia da pintura a coisa simplesmente aconteceu, acordes musicais soavam-lhe miraculosamente nos ouvidos enquanto as palavras brotavam da tela de uma forma tão intensa e natural que as ia escrevendo instantaneamente num papel que tinha à mão...




Novamente à semelhança de Van Gogh, cujas obras só muito mais tarde se tornaram fortunas, aquele pedaço de papel onde Don McLean escreveu o que lhe vinha à cabeça enquanto mergulhava na "Noite estrelada", e que talvez só por acaso tenha sobrevivido durante tanto tempo sem ter tido como destino o caixote do lixo, foi vendido em Setembro de 2022 por 1 milhão de euros! No mesmo leilão também foram vendidas 90 (!) guitarras do músico...

 
João Sem Dó                                                                                     Vincent - Don McLean
(Musicólogo de Valmedo)
  

sexta-feira, 14 de junho de 2024

 

A ORELHA E OS NÚMEROS DE VAN GOGH...



Dizem que a vida de Vincent Van Gogh foi um fracasso total, a começar na pintura onde foi desprezado e incompreendido pelos seus contemporâneos, repare-se que chegou ao ponto de ser considerado inapto para prosseguir estudos superiores na  Academia de Arte de Antuérpia; antes disso já tinha fracassado como negociante de arte numa empresa de família e também tinha sido dado como inapto para a carreira religiosa quando quis pregar aos miseráveis do mundo-cão de então, mas como se não bastasse também fracassou a nível social, não constituiu família devido a relações amorosas desastrosas, tendo sido rejeitado várias vezes e até chegou ao ponto de ser proibido de se casar, primeiro com uma prima já comprometida e depois com uma prostituta; além disso, fracassou no intuito de agregar à sua volta uma comunidade de artistas, toda a gente, à excepção do irmão que nunca o abandonou, se afastava por não conseguir suportar o seu carácter sombrio e os seus ataques de violência e paranoia... Quando vivia em Arles, a população chegou a exigir a sua expulsão da cidade por considerá-lo um "louco perigoso"!   


"Autoretrato" - 1889, (sem orelha)


Van Gogh viveu 37 anos e só foi activo como artista nos últimos 10, entre 1880 e 1890; dizem que durante toda a sua atormentada vida apenas terá vendido 1 quadro, "Vinhedo vermelho", 6 meses antes de se suicidar, e ainda que para alguns isso possa ser um exagero repetido ao longo dos anos, mesmo que se tenha vendido mais uma ou outra obra, a verdade não andará longe porque foi sempre dependente financeiramente do seu irmão Theo e sem esse sustento teria certamente morrido à fome num qualquer buraco miserável... 
Van Gogh trabalhava compulsivamente, ao pintar ligava-se ao mundo e à natureza e fugia da sua loucura, nos períodos em que não tinha ataques chegava a pintar 1 quadro por dia e em dias frenéticos até 2, nos últimos 60 dias de vida, e já muito doente, pintou 80! Estima-se que hoje em dia estarão espalhados pelo mundo inteiro 2250 obras de Van Gogh, entre 1250 quadros e 1000 esboços...



"Autoretrato" - 1888


1886 - andava Van Gogh por Paris quando a sua mãe, entretanto viúva, abandona a casa natal da família na Holanda e o seu espólio; os quadros ali deixados (esquecidos?) pelo artista são comprados por um adeleiro que os vende ao desbarato por 10 cêntimos e aqueles que não consegue vender simplesmente queima-os! Se o ignorante soubesse a loucura que fez talvez cortasse não uma orelha mas as duas, para além de mais algum orgão que vislumbrasse! 
1890 - a venda de "Vinhedo vermelho" rendeu a Van Gogh 400 francos, apenas o suficiente para subsistir durante um mês e pico já que a mesada que lhe era dada por Theo era de 250 francos!
1987 - a obra "Os Lírios" foi vendida por 54 milhões de dólares!
1990 - o "Retrato do Dr. Gachet" foi comprado por 60,5 milhões de euros!

Quanto às outras duas mil e tal obras não é conhecido o valor nem sequer se estão à venda, nem tampouco é conhecido o paradeiro da orelha esquerda que Van Gogh cortou à navalhada depois de uma zanga terrível com o seu hóspede Gauguin, só se sabe que nessa mesma noite a foi oferecer embrulhada num lenço a Raquel, uma prostituta sua amiga... E quanto valerá hoje a orelha perdida de Van Gogh, neste mundo que adora as relíquias e que oferece milhares por um pêlo púbico de uma qualquer superstar?


João Plástico
(Artista de Valmedo)

quinta-feira, 13 de junho de 2024

"Dia solarengo (Ciprestes e vila)"

Jean-Charles Forgeronne
(Fotógrafo de Valmedo)

domingo, 9 de junho de 2024

 

EFEMÉRIDE # 101


A LOUCA NOITE ESTRELADA


VINCENT VAN GOGH, então residente no Hospital Psiquiátrico de Saint-Remy, na Provença, era um doente com privilégios, o seu irmão Theo pagava-lhe dois quartos, um deles funcionando como atelier com vista sobre o jardim; além disso, como remédio calmante para a sua loucura tinha permissão para passear durante o dia pelas redondezas com as suas telas, pincéis e cavaletes atrás, tendo encontrado nessas evasões os motivos para os seus quadros: campos floridos, colinas, povoados, um imenso céu e, especialmente, os ciprestes! Escreveu ele numa carta ao irmão: "Os ciprestes preocupam-me sempre. Quis pintá-los como os quadros dos girassóis porque me surpreende que ninguém ainda os tenha pintado como eu os vejo. No que toca a linhas e proporção, são belos como um obelisco egípcio!" 


"Noite estrelada (Ciprestes e aldeia)" - 1889


Van Gogh pintou "Noite estrelada" na noite de 9 de Junho de 1889, a partir de vários esboços preparatórios. Embora retratando simplesmente uma paisagem da Provença, um céu imenso polvilhado de estrelas e nuvens rodopiantes, uma aldeia com o seu campanário, adormecida e recostada numas colinas e ainda um imponente cipreste em primeiro plano, a obra foi interpretada como profundamente espiritual... Para uns, o cipreste retorcido, para além de símbolo da morte, juntamente com o céu em movimento representa a alma atormentada do artista, para outros a obra revela a admiração do pintor por Walt Whitman usando o simbolismo da "grande abóboda celeste iluminada pelas estrelas" como expressão do divino, outros ainda, deveras iluminados pela fé que tudo enxerga, chegaram ao ponto de ver ali uma representação da Paixão de Cristo! Uns quantos, cientistas pragmáticos, acham que a obra representa as constelações tal como eram visíveis  naquela noite de 1889 e até sugerem, apoiados nas observações do telescópio Hubble, que Van Gogh estaria a olhar para a V838, uma misteriosa estrela da Via Láctea... Mas talvez para a maioria a obra não tenha qualquer simbolismo, não passando afinal de uma paisagem pintada numa noite estrelada...  


João Plástico
(Artista de Valmedo)

"Cão planando na água" - Alqueva

Jean-Charles Forgeronne

(Fotógrafo de Valmedo)
 

sábado, 8 de junho de 2024

 

ESCRITO NA PAREDE - XXXIV


"Rua Direita, Monsaraz"

Jean-Charles Forgeronne

(Fotógrafo de Valmedo)

 

TASCAS E ANTROS DE PRAZER - XXXI


MESTRES DO TEMPLO CULINÁRIO


A entrada do templo engana pela sua simplicidade e modéstia, dois degraus dão acesso a uma porta onde cabe apenas uma pessoa, parede estreita sem janelas mas imaculadamente caiada de branco a fazer lembrar as vestes dos cavaleiros da Ordem e assim que entra a surpresa toma conta do iniciado ao deparar-se com o tesouro dos templários perdido há séculos, por entre muita azáfama e duas salas repletas de comensais ali está ele reluzindo transformado em iguarias expostas sobre as mesas ou em bandejas circulantes em precário equilíbrio e depois, como se não bastasse, lá fora uma vista deslumbrante sobre o Alqueva abre o apetite e convida à evasão e ao misticismo...  




À boa maneira dos templários que antes do estômago alimentavam primeiro o espírito com uma oração, afinal antes de serem cavaleiros militares eles foram monges, saciemos a nossa curiosidade com alguns factos históricos: em 1232, D. Sancho II, auxiliado pelos Templários, reconquista definitivamente Monsaraz aos muçulmanos e o rei, grato, doou a povoação e terras circundantes à Ordem do Templo, ficando esta encarregue da defesa do território e do seu povoamento; com o intuito de atrair população construíram então os templários uma nova fortaleza, vários templos religiosos, um hospital, uma albergaria...




Na TAVERNA DOS TEMPLÁRIOS, em Monsaraz, come-se muito bem e em conta, os pratos honram a antiquíssima tradição culinária alentejana e templária, afinal os cavaleiros eram de boa boca e comiam muito bem, três pratos de carne por semana, peixe sempre à sexta-feira por obrigação religiosa e acompanhado por legumes e ervas aromáticas, bom pão, mel, leite, grão com fartura e mais o que houvesse...



Aqui sentado na Taverna viajo no tempo à boleia de aromas ancestrais e não me surpreenderia muito se entrasse por aqui adentro um verdadeiro cavaleiro templário sacudindo o pó da sua túnica, encostando a pesada espada à parede e sentando-se com o intuito de se regalar com uma carne de alguidar, talvez um bom borrego ou então umas bochechas de porco preto, quiçá polvo ou bacalhau à templário, não esquecendo a açorda de cação com migas...



João Ratão

(Chef de Valmedo)