O AUTORETRATO DO POETA!
Sempre Bocage se sentiu incompreendido e perseguido por uma sociedade portuguesa tradicional e bolorenta, avessa a novas ideias e tentou fugir dessa opressão em viagens pela Índia, Brasil e Macau, aventuras que no entanto não lhe apaziguaram nem a infelicidade no amor, nem as frustrações, nem o desespero... Refugiado numa intensa boémia e já expulso dos círculos literários acabaria por ser preso em 1797 por desrespeito à rainha e à Igreja! Para escapar ao cárcere é obrigado a retratar-se e na parte final da sua curta vida sustenta-se a si e a uma irmã com quem vive a fazer traduções miseravelmente pagas de poetas franceses e clássicos latinos como Virgílio ou Ovídio, tarefa que aliás executou com rigor e originalidade, ou não fosse alguém obcecado com a perfeição... Bocage, como muitos outros grandes génios incompreendidos, morreu na doença e na miséria aos 40 anos de idade e foi, sem dúvida, um irrequieto espírito fora da sua época...
COMO O POETA SE RETRATA
Não se equivoque o prezado leitor se ao abrir um livro de sonetos de Bocage der de caras com outra coisa que não esta maravilha, é que o seu autoretrato original seria depois revisto e alterado devido à perseguição inquisitorial de que era alvo e os versos onze e catorze tomaram depois a seguinte ambígua e amorfa forma:
11 - "E somente no altar amando os frades"14 - ""Num dia em que se achou mais pachorrento"
Claro que, sempre e especialmente nos dias que correm em que já não há pachorra e em que Bocage se estaria cagando para muito deste mundo-cão, o poeta preferiria a versão pura e original, afinal é essa a alma de toda a sua poesia...
J.C
(Poeta de Valmedo)
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