quinta-feira, 10 de março de 2022

 

A PRIMAVERA CABRA E AZEDA


Ainda faltam dez dias para chegar a vigésima segunda primavera deste vigésimo primeiro século e já se sabe que vai ser ela muito azeda, ainda vem a caminho, é certo, mas já paira no ar o azedume dos ventos vindos de leste soprados pela cabra da guerra e também já os campos foram invadidos pelo amarelo canário das azedas... De nome científico Oxalis pes-caprae, que é como quem diz em bom português Pé-de-cabra azedo, mas também conhecida por AZEDA, erva-canária, erva-mijona, trevo-azedo e outros nomes, esta singela e frágil planta que não ultrapassa os 40 centímetros de altura e de exuberantes flores amarelas toma de assalto e invade a paisagem de Janeiro a Abril pintando-a de um exuberante amarelo, digno de um Van Gogh qualquer...   


"Invasão amarela" - Jean-Charles Forgeronne

Consta que a introdução das apelativas flores amarelas "azedas" se ficou a dever à rainha D. Amélia que delas muito gostava e que as encomendou para ornamentar o seu jardim da Ajuda e assim, desejo real é ordem, lá vieram as azedas da África do Sul, a sua terra natal... O pior veio depois, estas plantinhas gostaram tanto do nosso país e do nosso clima que fugiram ao controlo da mão humana e desataram a invadir todo o território, ameaçando até as nossas plantas autóctones, perigosa espécie invasora, agora lhe chamam!


"Ameaça" - Jean-Charles Forgeronne

Mas que culpa tem a azeda? Afinal ela foi convidada para vir para cá, ela cujo único pecado é amar o calor do sol e que com a falta da sua luz devido ao aproximar da noite ou à nebulosidade se fecha em copas para reabrir apenas no dia seguinte quando o sol voltar... E quem, quando criança, nunca chupou os caules da planta para saborear aquele suco ácido? Não é por acaso que em Espanha lhe chamam chucha-meles!


"À espera do sol..." - Jean-Charles Forgeronne


João Atemboró

(Naturalista de Valmedo)

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