sábado, 25 de abril de 2020
MÃOS NÁUFRAGAS
Para longe as bravas ondas recuaram
deixando no imenso areal, liso,
náufragos pedaços do progresso
de uma desumana existência...
Garrafas que o bicho da saudade
mataram a alguém em alto mar,
paus, canas, latas, rede,
bóias que nunca salvaram ninguém,
máscaras, que é tempo de pandemia,
rolhas roídas do rei da rússia e
montes de plástico ao monte,
penas de gaivota perdida, concha
interna de lula, ossos indecifráveis,
cordame de verde esmeralda, cordel
numa gruta de platónicas sombras refém,
onde estás tu ó realidade, ó fé,
dentro, fora ou em lado nenhum?
E que MÃOS foram estas que juntaram
tudo isto no sagrado chão que agora piso?
Porque embora condenado ao insucesso,
o lixo nunca acabará!, é pura ciência,
o gesto revela a boa humanidade
que ainda habita num incógnito ser ímpar...
E desta duna almagre até além ao baleal, vede,
irei amanhã, sempre e depois também,
juntar tudo o que achar com a alegria
de saber que ainda que nada resolva e
e tudo regresse, pelo menos o horizonte
será tão belo como agora, sem mancha,
e talvez ache aqueloutras MÃOS admiráveis,
juntas este nosso canto ficaria pela metade cruel
e se outros viessem, três, vinte, cem,
a esperança viria com a próxima maré
e a beleza não morreria, de modo algum!
J.C
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O sentimento posto em tinta não é fácil, é preciso inspiração e mais... arrebatamento! Abraço Poeta amigo.
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