quarta-feira, 2 de janeiro de 2019


A TOUPEIRA DE JANEIRO


ANO NOVO, VIDA NOVA?



Amigo Rui, a toupeira veio cá acima, orientou o focinho para os quatro ventos, inspirou profundamente, fechou os olhos, franziu o nariz, soprou na direcção da minha rosada buganvília que estremeceu num arrepio e disse:
   - A coisa melhorou um pouco, mas os ventos dizem-me que não há motivos para festejar...
    - Mas neste último mês ganhámos os jogos todos para a Liga, com uma goleada a um dos candidatos, estamos nos quartos da Taça, na Final Four da Taça da Liga e podemos fazer figura na Liga Europa depois de nos termos despedido da Champions com uma vitória...
A toupeira não me interrompeu nem sequer me encarou, continuava enigmáticamente a perscrustar o horizonte para os lados da Areia Branca, e eu, acompanhando o seu olhar, adivinhei as suas palavras:
 - As vitórias acontecem e são naturais nos grandes clubes, habituados a ganhar, mas as conquistas são outra coisa, os títulos estão sempre assentes numa grande base de qualidade, confiança e comprometimento. Não basta ganhar uma série de jogos seguidos, é necessário que esteja tudo bem assente numa filosofia de jogo e numa estratégia forte, imunes a um eventual e esporádico desaire, e isso, eu não vejo... A equipa está deprimida, stressada e apenas viva até ao próximo desaire!
   - Então o que fazer?
   - Ir ganhando, sempre, mesmo a jogar horrivelmente mal, mas ir ganhando...
   - Mas o Jonas está outra vez em grande, o Zivkovic  renasceu, o...
   - A questão não é individual! -atalhou o bicho das profundezas - A qualidade está lá, simplesmente não resulta, não basta juntar onze bons jogadores e uma bola, é necessário que haja química, um fermento que catalise as reacções e resulte tudo num futebol de qualidade, e isso não acontece por magia... Basta ver os sonantes reforços do Verão que resultaram numa nulidade!


    - Então o problema é do Rui?
    - Também mas depois pode ser que o balneário esteja inquinado, que é como quem diz, refém da influência de alguns, e isso gera sempre conflitos e dificuldades de adaptação...
    - Estás a referir-te ao misterioso desaparecimento do Ferreyra?
     - Claro, mas o problema é mais vasto, deriva dum ano muito difícil em termos de imagem pública, não é fácil resistir a um ataque tão violento à idoneidade dos dirigentes do clube como aquele que foi levado a  cabo no último ano e seria um verdadeiro milagre ser campeão esta época... Aliás, já é surpreendente estar em 2º lugar neste momento, a apenas 4 pontos da liderança....


Despedida da Champions...
     
  - Então, que futuro?
  - Isso, meu amigo... - e a toupeira olhou-me, enigmática - ninguém sabe, é esperar para ver... A confiança pode voltar apenas muitos anos depois de desaparecer e tudo na vida se resume a uma questão de autoconfiança, se ela não existe... E tudo pode estar preso por horas, o que virá aí se não se ganhar logo em Portimão, por exemplo?
   - Pois... 
Por isso, amigo Rui, boa sorte para logo, que bem precisas, e já agora para todo o mês de Janeiro, um ciclo terrível de finais, mas que raio, não é para isso que existem os grandes clubes, para as grandes ocasiões?...

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1 comentário:

  1. Pois é amigo, João. O pior aconteceu em Portimão (confesso que não fiquei indiferente ao resultado). Mas fizeste uma análise acertada do actual momento do teu clube e do da toupeira. acho que acertaste na mouche. Um abraço.

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