quarta-feira, 1 de novembro de 2017


O TEMPO, SEMPRE O TEMPO...


"Todas as tragédias que se podem imaginar reduzem-se a uma mesma e única tragédia: o transcorrer do tempo", assim disse Simone Weil, a mística filósofa francesa que se tornou operária da grande RENAULT para poder perceber o mundo proletário e escrever sobre o dia-a-dia das pessoas comuns, das massas sem sonhos nem aspirações, escravas das grandes organizações... Mas a tragédia vai muito para além das preocupações sobre a influência nefasta do tempo sobre as sociedades, ela está no nosso âmago e chama-se MORTE, o inevitável epílogo desta nossa existência esquisita, cronometrada até à exaustão! Afinal, da morte vivem as religiões cuja existência só se justifica pela necessidade de resposta do ser humano em relação à questão primordial? Existimos para quê? É só isto? O que virá depois?

Não terá havido nenhum filósofo que não tenha filosofado sobre o tempo, esse monstro que sobre tudo opera e que tudo pode transformar na vida, essa ínfima porção de tempo, mais ou menos preenchida, consoante a vontade e o destino de cada um...  



"A persistência da memória" - DALI
































Disse também Jean Grenier que "o tempo só consegue matar o que é real", ele que foi filósofo, professor e guru de Albert Camus, o criador do ABSURDISMO, essa extraordinária corrente filosófica que proclama a insensatez  de procurar um sentido para a vida porque, simplesmente, ele não existe, tudo não passa de um valente absurdo.... E eu ainda acrescento que, ainda que se venha a descobrir um sentido para esta esquizofrenia que é a vida, ela, no final, não passará de um grande absurdo! Mas, segundo Camus, só há dois caminhos possíveis: o suicídio ou viver em plena e constante revolta contra o absurdo....
Eu, para já, continuarei a ser um eterno revoltado!
Mas sempre houve então, para os filósofos, a necessidade de transpor a realidade e entrar em novas dimensões, criaram-se novos mundos especulativos à base de ideias, sonhos e memórias que escapam à força destruidora do tempo, algo que está para além da realidade, um universo que persiste enquanto houver alguém que pense, que idealize e que sonhe, que seja SURREALISTA como DALI, que matou a realidade derretendo os relógios...  





O Dali da Mata Rainha D. Leonor



E depois o tempo não agrada a todos. para uns o tempo é pouco, talvez porque muito dele o desperdiçam em coisas que muito os consomem e pouco os satisfazem, para os outros, os suicidas por exemplo, o tempo é insuportável e por isso passam a vida a tentar matar o tempo até que conseguem matar-se a si próprios, reféns de uma absurdez intolerável.... E ainda para outros o fim do tempo será um alívio, cansados de tanto sofrimento....

E se o tempo é sinal de morte, essa finitude de uma existência mais ou menos preenchida mas sempre insuficiente, a atracção que ela, a morte, exerce sobre os mortais é de tal ordem que não haverá ninguém que não pense nela em todos os dias da sua vida, como será, quando virá e se significará o absoluto final....
Nos anos sessenta e setenta do século passado a morte era apresentada como uma normalidade da vida social, e então as crianças, especialmente nas aldeias, faziam romarias em qualquer enterro que houvesse, o contacto e a percepção com uma existência acabada de pessoas conhecidas eram reais, nada tendo a ver com os dias da sociedade pós-moderna actual em que a morte é escondida e ostracizada, como se com isso se pudesse atenuar uma dor que é primordial à espécie humana...






Yves Klein - "Salta para o vazio"





 Que o digam as gerações actuais que idolatram os símbolos da morte na arte urbana, embora isso possa ser um bom sinal porque será sempre melhor torná-la uma coisa normal do que uma tragédia sem sentido... E para não ter sentido já basta a vida! 







Quanto a mim, já conversado quanto a tragédias existenciais, proclamo o grande e lúcido BAUDELAIRE: "É necessário estar sempre embriagado. Tudo está aí: é a única questão. Para não se sentir o horrível fardo do TEMPO que quebranta os vossos ombros e vos curva em direcção à terra, deveis-vos embriagar sem trégua. Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, como quiserdes. Mas embriagai-vos."

Embriague-mo-nos então de vida, acrescento eu....




Yuehan Kaluosi

(Filósofo Taoísta de Valmedo)


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