sexta-feira, 15 de setembro de 2017


O destino de Pedro


Faz o caminho o peregrino, atormentado,
vindo da sua serra pela hora primeira,
refulge a mortiça luz na crina do alazão
debandam veados, espreitam javalis,
cerram-se o mato e o denso carrascal
mas hoje não é dia de caça nem de aventura...

Ao infante assalta o desejo, desgraçado,
desespera por Inês, bela, corajosa, inteira,
nenhuma vontade domina a secreta paixão,
nem El-Rei ou seus verdugos, os servis,
a podem impedir, ela é trágica, intemporal,
heróica, negra memória que perdura...

Tudo a galope que a sede exalta a vontade,
cortesãos delicados e escudeiro mui alerta
anseiam pelo planalto que César afamou,
eis o vale da carqueja, pedra tornada lameira, 
"Aqui a passo" - grita o príncipe versado -
antes tarde e seguro que formoso e partido...


Um pastor implora mercê a sua majestade
e para a injusta vida o lhano Pedro desperta
mas o escrivão não lhe vale, a pena secou...
Vale o desígnio do santo galego, ali à beira,
que mantém o Baphomet bem acorrentado
e a demanda do santo graal no bom sentido...

Amante e cavalo matam a sede na nascente, 
fonte tornada real, pelo mosteiro abençoada,
sobem agora por veredas de oregãos e alecrim,
já se avista o moledo da prometida paixão
mas nem o bairro das poesias palavras terá
que falha justiça façam ao pungente amor...

Cantarão os milhafres e cantará toda a gente
que lenda igual não haverá, nem inventada,
eis o formoso colo da garça palpitante, enfim,
eterna raínha será depois da miserável traição
mas nem Garcia, Camões ou Columbano haverá
que descreva tanta raiva e a sublime dor...





"A coroação de Inês" - Pierre Charles Comte - 1849



J.C

(Poeta de Valmedo)

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