sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016


O MILAGRE DA SEREIA




       O que leva Bryan Ferry, Robert Plant, Sinead O'Connor, Elizabeth Frazier ou George Michael, por exemplo e só para mencionar alguns, a arriscarem uma versão da mesma canção? A resposta só pode ser uma: a atracção irresistível por uma melodia mágica, qual engodo lançado por uma linda mas perversa sereia! 
           "Um milagre", assim definiu Larry Beckett o que aconteceu uma bela manhã do ano de 1967 quando levou o poema "Song to the siren" a TIM BUCKLEY que tomava o pequeno almoço num café. Então, após ter lido os versos e para espanto de Beckett, mesmo ali sentado à mesa, pegando na sua guitarra e à primeira tentativa Tim criou os acordes e a melodia que, sem grandes alterações, viria a gravar mais tarde no LP "Starsailor".  

        Mas Tim Buckley espantou muita outra gente, muitos o consideraram superior a Dylan e Jacques Brel chegou mesmo a dizer que era a voz mais extraordinária que tinha ouvido na sua vida...A verdade é que esta personagem de aspecto tímido e frágil viveu apenas 28 anos mas deixou uma marca indelével na música popular, atestada por "Song to the siren". 


song to the siren - Tim Buckley


               Muito boa gente (incluído eu próprio) descobriu a canção apenas em 83 na voz deslumbrante de Elizabeth Frasier (This Mortal Coil) e só depois chegou ao original, tarde mas ainda a tempo....  Muitas outras versões foram aparecendo e quando parecia que a história estava contada e revista acabo de ser recentemente surpreendido por uma nova "Canção para a sereia", tão bela e mágica  à imagem de Buckley. O milagre pertence a THOMAS DYBDAHL, um norueguês também com ar frágil e tímido mas que merece ser descoberto quanto antes e já agora que não seja atraiçoado por nenhuma sereia para que possa ter uma longa carreira e assim nos deleitar com pérolas e encantamentos......



song to the siren . Thomas Dybdahl




Thomas Dybdahl
                           
          
                                 "Canção para a sereia"

Flutuando em longínquos oceanos inavegados
fiz o meu melhor para sorrir
até que os teus olhos e dedos melodiosos
me seduziram até à tua ilha.
E tu cantaste:
"Navega até mim, navega até mim,
deixa-me envolver-te,
aqui estou eu, aqui estou eu
esperando para te abraçar"

Sonhei eu que tu sonhaste comigo?
Estavas aqui quando eu navegava a todo o pano?
Agora o meu desorientado barco está adornando,
danificado pelo amor rejeitado nas tuas rochas
por teres cantado:
"Não me toques, não me toques,
volta amanhã..."

Oh o meu coração, o meu coração esconde-se da tristeza.
Estou perplexo como uma criança pequena,
estou agitado como a maré:
devo permanecer no meio das vagas?
Ou devo deitar-me com a morte, minha amada?
Ouve-me cantar:
"Nada até mim, nada até mim,
deixa-me abraçar-te,
aqui estou eu, aqui estou eu
esperando para te abraçar..."

Larry Beckett

(Tradução de João Sem Dó)



João Sem Dó

(Musicófilo de Valmedo)

Sem comentários:

Enviar um comentário