segunda-feira, 2 de novembro de 2015

                                                               A RAIVA DO VULCÃO - II

         Há 3000 anos, por entre as sombras gigantescas dos vulcões Popocateptl e Iztaccíhuatl e no território que agora é o México, já os antepassados dos Astecas celebravam a vida e a memória dos seus ancestrais em rituais de intensa expressividade. Essa tradição mantém-se ainda hoje como uma das maiores festividades da América do Sul e chamam-lhe a Festa dos Mortos porque se acredita que eles têm, neste dia 2 de Novembro, permissão divina para visitar os seus parentes. Enfeitam-se as casas e os cemitérios com flores, milhões de velas tornam a noite em dia e incensos perfumam o ar; são confeccionados as refeições e bolos preferidos dos mortos para se comer em casa e junto às campas e o resto é animação com muita música, dança, animações teatrais e desfile de mascarados de MORTE... e claro, bebe-se até cair de MORTO!

      E se os adultos se divertem até à exaustão então as crianças adoram esta alegria contagiante e em especial as caveiras de açúcar, o doce mais apreciado da festa. E desde pequenino, que melhor forma de lidar com a morte e de lembrar os entes queridos se poderia imaginar, honrados ficam os defuntos por tanta alegria em sua memória e aliviados ficam os vivos porque exorcizam a tristeza das suas perdas; que contraste com a tradição ocidental em que os finados são lembrados na mais austera, cinzenta e triste lembrança, cunho repressivo e característico da Igreja Católica neste como em muitos outros casos em que sonegou as festividades pagãs para as moldar ao seu jeito severo. Felizmente ainda houve paganismo que resistisse...

       E honrando a lenda até Iztaccihuatl (Mulher Branca) e Popocateptl (Montanha Fumegante) dão tréguas durante estes festejos, ela uma princesa que se apaixonou pelo bravo guerreiro ao serviço de seu pai. Um dia o rei enviou o amante de Iztaccihuatl para a guerra prometendo-lhe a mão da sua filha se de lá regressasse vitorioso, coisa que não lhe parecia possível. Entretanto outro guerreiro ciumento espalha o boato sobre a morte de Popocateptl e a princesa acaba por definhar de desgosto. Quando o herói regressou vitorioso  a casa e soube da tragédia morreu também de desgosto e aí os Deuses (aqueles que ainda se incomodam com as injustiças) cobriram os amantes de neve e transformaram-nos em montanhas e ainda hoje o Popocapetepl faz chover fogo na terra devido à RAIVA imensa que dele se apoderou por ter sido privado da sua amada....
       Quem sabe se não foi por aqui que Shakespeare se inspirou para as aventuras de Romeu e Julieta? Certo é que muito tempo depois deambulará por estes sítios um cônsul desgraçado...



João Lava

(Vulcanólogo de Valmedo)

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