domingo, 20 de julho de 2025

 
POEMA VULCÂNICO SOTERRADO

Chegados à Ponta dos Capelinhos assalta-nos a sensação de que acabamos de pisar a Lua ou outro inóspito planeta qualquer, o cenário é negro, saído de uma infernal fogueira o chão não é mais do que cinzas e rochas queimadas, nenhuma criatura habita este território fustigado pela labareda do vulcão... Ainda assim, ao fundo, a antiga Casa dos Botes e um muro revestido a azulejos pintados pugnam por dar cor a tanta aridez e transmitir mensagens que preservam a memória da tragédia ao mesmo tempo que avisam as gerações futuras de que neste paraíso atlântico nada é garantido... 


"O Mural" - Jean-Charles Forgeronne

Naturalmente os ventos continuam a espalhar cinzas e pó do vulcão a muita distância, a paisagem altera-se, o muro enterra-se a cada ventania e parte do belo poema que ali foi escrito escondeu-se nas entranhas do planeta, nem pá nem picareta à mão e eu a escavar com as mãos mas debalde, acabo desolado por não conseguir trazer à luz a misteriosa parte oculta que se esconde terra adentro... Talvez noutro dia, em que os tempestuosos ventos levem estas cinzas para outro lugar seja possível lê-lo na íntegra, mas não tenho mais tempo aqui e pior do que isso é não saber de quem é o poema, estará ele publicado em alguma obra? Dúvida atroz...

"O poema vulcânico" - Jean-Charles Forgeronne


"No ar calafrio
rebenta em cachão repentino
luzidio penedo.

O cachalote

É átomo naquele mar infindo
o bote.

Nas cavernas da alma
rosna pronto o medo
enquanto o latejar do mundo
cospe adamastores de fogo
denso.
Assoma à boca do tempo
um esgar suspenso

Que terra é esta
de tais perigos
cheia?
Que gente é esta
(...)    "


J.C
(Poeta de Valmedo)

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