NA HORTA, COMO UM MARINHEIRO...
Como um marinheiro cheguei à Horta, de barco, a bordo do Gilberto Mariano, um ferrie que pode transportar quase 300 passageiros e uma dúzia de viaturas e assim baptizado em homenagem àquele que durante décadas foi um herói das travessias diárias entre o Pico e o Faial para entrega de correspondência, encomendas e o que mais houvesse...
Mantenho-me sentado, serei, qual indómito capitão, dos últimos a sair, não tenho pressa nem maleita, a travessia apanhara mau tempo nos dois canais e agora, espreitando por entre muitos passageiros ainda cambaleantes e de saco de vómito na mão como se de um troféu se tratasse, quais zombies, vou vislumbrando ao longe o casario e a marina aos pés do Monte da Guia...
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"O Mariano ancorado" - Jean-Charles Forgeronne |
Devido à sua divina localização a meio do Atlântico, a marina da Horta é uma das mais famosas e procuradas do mundo, porto de abrigo de muitos iatistas e e aventureiros de todos os cantos do planeta que vão deixando nos muros e no chão os testemunhos da sua passagem, também por recordação futura mas especialmente por temerem a lenda que vaticina de que se não o fizerem não chegarão ao seu destino... E consta que não há marinheiro que não acredite no destino!
Depois de percorridas em passo lento e atento a marina e a marginal, apertando a fome nada melhor que abancar no Café Porto Pim e à custa de uma generosa tosta mista e de uma cerveja fresquinha no ponto deixarmo-nos enlevar pela vista da montanha e da formosa baía, isto se não formos distraídos por um bando de irrequietos e afoitos pássaros que com uma desconcertante familiaridade poisam na nossa mesa à cata de migalhas...
E mesmo que nos tenhamos esquecido do livro que andamos a ler demasiado devagar devido às exigências da viagem, ou do bloco de notas onde registamos impressões para não as darmos como perdidas logo na manhã seguinte, há sempre mensagens que nos captam a atenção e nos fazem sonhar...
João Palmilha
(Viajante de Valmedo)