segunda-feira, 29 de junho de 2020


AS MARAVILHOSAS DÁDIVAS DA NATUREZA...


Alecrim
Estou cada vez mais viciado na minhas incursões pela natureza selvagem, umas vezes em modo corrida, outras em modo caminhada ou ainda em modo misto, tudo depende do apetite e da condição física e mental de alguém que para além de ter de lidar com a gestão do stress hospitalar não tem um horário normal, muitas vezes trabalho nocturno e descanso diurno, sonos e vigílias trocados, fins-de-semana a meio da semana, feriados são dias normais e férias quando se pode, e agora este tempo de pandemia ainda me veio tornar mais dependente dessa fuga para a natureza oculta numa busca solitária por um bálsamo, pelo equilíbrio, pelo auto-conhecimento, pelo deslumbramento... E se por vezes nada disso acontece e o que de lá trago resume-se apenas à satisfação do dever cumprido, isto é, registo da actividade física em dia, o que não sendo muito já dá para ganhar o dia, então noutras ocasiões consegue-se uma coisa ou outra e até por vezes não tão raras assim, quando os planetas ou as matemáticas cósmicas se alinham e tudo parece certo numa espécie de "noves fora nada", ocorre o jackpot: alívio, reflexão, equilíbrio e êxtase...   


Oregãos
E porque a natureza é generosa para quem quer e para quem busca muitas vezes chego a casa carregado de troféus, há dias foram uns generosos raminhos de alecrim que encontrei à beira do carreiro a pedir-me encarecidamente que o levasse comigo e que emprestaram um perfume celestial a umas batatinhas de forno e ao tempero dumas pernas de perú, ontem o prémio foram os primeiros oregãos do ano que tiveram a ousadia de se atravessar à minha frente e que embora ainda necessitem de mais umas semanas de calor para chegar ao amadurecimento ideal, alguns, os mais precoces, já podem ser colhidos e colocados a secar para depois fazerem a diferença em saladas, nas pizzas, nas massas, em qualquer coisa, até num simples queijo fresco...
E se os oregãos só se oferecem no verão e por isso há que aproveitá-los ao máximo para guarnecer a dispensa até ao próximo estio, o alecrim ali está sempre à nossa espera, durante o ano inteiro, faça chuva faça sol, faça frio ou calor...




Loureiro
É por demais sabido que não é consensual a origem do nome  LOURINHÃ, esta bela região e incontestada capital dos dinossauros, mas a minha intuição está de acordo com muitos historiadores e alguns linguístas, e de entre estes últimos destaco evidentemente a posição do meu amigo João Portugal, os quais defendem a tese de que Lourinhã deriva da palavra latina  Laurius-laurili que significa loureiro ou terra onde existem muitos loureiros... Ora, sabido que os romanos por aqui andaram e que por cá deixaram entre outras coisas a língua não é difícil concluir que de facto esta terra só se podia chamar Lourinhã tal a abundância de loureiros e eu, qual investigador que testa tudo o que é teoria segundo os  cânones do método científico, acabo de comprovar isso mesmo ao chegar há pouco da minha corridinha ali pelas bandas da Moita Longa, a qual também se poderia chamar Laurilonga tantos são os louros que por ali crescem, e prova disso é este troféu que trouxe comigo, uns raminhos de generosas e perfumadas folhas dignas de fazerem parte de uma coroa de louros de um qualquer campeão, mas nem todas, algumas terão que ir para a cozinha, é que não há tempero de jeito sem elas...  

Os meus troféus...

Embora pequenos os meus troféus são genuínos e mais biológicos não podem ser porque são dados pela natureza selvagem, e aqui estão eles frescos, saborosos e perfumados, dispostos a maravilhar desde que haja algum mérito gastronómico... E sempre que precisar de alecrim, oregãos ou louro, por exemplo, basta uma caminhada pelos sítios certos, afinal é muito mais agradável do que perder tempo a procurá-los nas prateleiras das lojas e ainda por cima pagando ao quilo a folha de louro a 18, os oregãos a 30 e o alecrim fresco a 65 euros... A natureza não tem preço...

João Ratão
(Chef  de Valmedo)

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