EFEMÉRIDE # 16
OS VENTOS, OS MOINHOS E OS IDEAIS
OS VENTOS, OS MOINHOS E OS IDEAIS
"Quando nisto iam, descobriram trinta ou quarenta moinhos de vento, que há naquele campo. Assim que D. Quixote os viu, disse para o escudeiro:
- A aventura vai encaminhando os nossos negócios melhor do o que o soubemos desejar; porque, vês ali, amigo Sancho Pança, onde se descobrem trinta ou mais desaforados gigantes, com quem posso fazer batalha, e tirar-lhes a todos as vidas, e com cujos despojos começaremos a enriquecer; que esta é boa guerra, e bom serviço faz a Deus quem tira tão má raça da face da terra.
- Quais gigantes? - disse Sancho Pança.
- Aqueles que ali vês - respondeu o amo - de braços tão compridos, que alguns os têm de quase duas léguas.
- Olhe bem, Vossa Mercê - disse o escudeiro - que aquilo não são gigantes, são moinhos de vento; e os que parecem braços não são senão as velas, que tocadas do vento fazem trabalhar as mós.
- Bem se vê que não andas corrente nisto das aventuras; são gigantes são, e, se tens medo, tira-te daí e põe-te em oração enquanto eu vou entrar com eles em fera e desigual batalha."
(O engenhoso fidalgo Dom Quixote da La Mancha, Miguel de Cervantes)
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D. Quixote e Sancho Pança - Gustave Doret |
Por culpa de D. QUIXOTE, romance que muitos consideram a melhor obra de ficção de todos os tempos, os moinhos de vento tornaram-se o símbolo das causas perdidas ou quase inatingíveis perseguidas por cavaleiros andantes, idealistas e sonhadores.... E se hoje já não existem desvairados como D. Quixote que pensava que conseguia mudar o mundo sozinho, também é verdade que sem sonhos, por mais fantasiosos que possam parecer, ninguém alcançará obra de grande monta, Mas se cada um lutar pelos seus ideais e conseguir mudar um poucochinho o seu mundo então, tudo somado, milhões de pequenas mudanças podem fazer com que o mundo mude mesmo... Nem que se tenha que lutar contra os nossos moinhos de vento!
2-6-1928 |
Hoje não é o dia dos moinhos de vento (comemora-se em Abril) mas é o dia deste moinho em particular, algures no Oeste, construído há 89 (!) anos e aparentando um excelente estado de saúde e ei-lo aqui porque, num tempo de esquecimento e abandono do património, cada exemplar é fundamental para manter viva a memória, a história, o sonho, o ideal...
Já não se constroem moinhos de vento como no tempo de D. Quixote (há 400 anos!) e por cada moinho que é abandonado e morre há um sonho e um ideal que não é atingido, e como os ventos continuam instáveis e ameaçadores, cada vez são precisos mais moinhos de vento para atrair cavaleiros andantes de bom coração e idealistas em busca de um mundo onde caibam todos os sonhos....
João Breve
(Cronologista de Valmedo)
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