quarta-feira, 24 de agosto de 2016



CONVERSA ONÍRICA COM PASCAL



        "O último desígnio da razão é reconhecer que há uma infinidade de coisas que a ultrapassam"..., disse o homem, com voz tímida mas tão serena que senti um calafrio daqueles que só se sentem quando verdades absolutas nos caiem de chofre e esclarecem os mistérios mais insondáveis...
         Mas que raio, pensei, o que é que esta pessoa estranha está para aqui a aventar?  A criatura, com o seu nariz proeminente e de tez cinzenta, sinal de alguma enfermidade que o afectaria decerto, estava sentado no banco do jardim público, indiferente à azáfama costumeira das gentes produtivas da sociedade de consumo, ostentando um olhar alucinado, vazio, ia proclamando para personagens reais e imaginárias ...
         - Mas quem és tu, para falares dessa maneira? - perguntei com autoridade.
         -  Sou  BLAISE PASCAL,  o matemático, o filósofo, o pensador....
        - Nunca ouvi falar... Mas o que te aconteceu para estares agora assim, quase a implorar atenção para as tuas ideias? Porque tens esse aspecto de mendigo e renegado e não és famoso e recompensado pela tua filosofia?
        - Oh! Isso é uma longa história, meu amigo... Sabes, vivi num tempo de escuridão, há mais de 300 anos, onde imperavam verdades absolutas e castigos divinos... Sabes, a vida é ingrata por vezes e não vale a pena questionar isso, mas quero dar-te 3 conselhos...
         -   E quais são eles? - disse eu não disfarçando algum desdém...
         -   Não acredites em tudo o que ouças ou vejas, questiona sempre que tiveres dúvidas...
         -  Ok, mas eu não sou assim tão crédulo, não acredito assim tão facilmente.... E depois?
     -  Não duvides de tudo só por teimosia, haverá algumas coisas em que reconhecerás autenticidade e verdade...  
        - Mas isso já eu faço!
        - Achas mesmo? Cuidado com as aparências... - disse Pascal, um pouco impaciente....
        -  Bem, e qual é o teu terceiro e último conselho?
        - Nunca busques mais conhecimento nas questões em que necessitarás  apenas de julgar pela tua consciência...
        Esta coisa da RAZÃO é tramada... - pensei.  O melhor mesmo é pensar antes de agir, excepto naqueles casos em que o instinto é o melhor pensamento... Ou seja, pensar depois....
        - Se assim o não fizeres, a perdição esperará por ti... - ouvi-o murmurar...
        - Assim seja - disse eu, meio perdido, deixando para trás aquele estranho pensador...
                 




Yuehan Kaluosí
(Filósofo Taíosta de Valmedo)
                    

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