O FOGO, O ARTIFÍCIO E O INFERNO
- Anda James, vamos à festa! - disse o J.C já com um pé na rua mas, vendo o meu ar desconfiado, acrescentou: - Anda, vai ser giro..
- Não! - disse eu com a melhor pose de orelhas que consegui.
- Ele se calhar pensa que vamos àquele festival na China de que falámos ontem. - disse o M.
- Não queres mesmo vir? - ainda tentou a L. mas eu não mostrei muito interesse e eles lá foram...
E por aqui fiquei eu, fazendo rondas e olhando a lua, guardando o vazio que me deixaram e suspirando que aquela festa não fosse daquelas que abusam daquele estranho artifício de luzes e explosões que descambam por cima de nós. Não sei, amigos caninos, se pelos vossos sítios se passa o mesmo que por aqui em Verde Erva Sobre o Mar em que, nesta altura do ano em que os humanos andam com o pelo mais à mostra, há festa por todo o lado e todos os dias, sejam eles santos ou não, e santa paciência, tive que me habituar... Foi difícil ao princípio compreender que todas aquelas explosões não era o céu a cair e que não vinha nenhuma ameaça daquela chuva de luz que matava a tranquilidade das estrelas mas, agora que estou habituado, quando começa o alvoroço já não corro a esconder-me no primeiro buraco que encontrar...
A verdade, amigos caninos, é que não me apeteceu ir à festa porque tenho andado a matutar nesta história do fogo de artifício, é verdade, não por ter medo dele mas porque descobri que os foguetes estão na origem de uma monstruosa conspiração contra a nossa espécie e senti uma premente necessidade de partilhar convosco as minhas preocupações.
Sabiam que a pólvora foi descoberta na CHINA há quase 2000 anos?

E que ainda hoje os chineses são os maiores produtores e especialistas em tudo o que se refere à pirotecnia?
Sim, tudo isto ouvi da boca do J.C e mais coisas preocupantes como seja aquela petição que corre na Inglaterra, uma região longínqua, em que a Real Sociedade contra a Crueldade com os Animais pretende, com o apoio de milhares de apoiantes subscritores, levar a votação no Parlamento a ideia de acabar com o fogo de artifício com a justificação de que essa milenar arte de entretenimento causa STRESS à nossa espécie canina....
- E não tarda nada, à velocidade astronómica como nós copiámos tudo o que de mau vem dessa geringonça chamada Europa, depressa vamos ter aqui em Verde Erva Sobre o Mar muita gente a querer acabar com a bicha de rabiar....
- ?
- Estes puristas radicais estão a ultrapassar todos os limites, James... - continuou o J.C a desabafar. - Qualquer dia os animais têm mais direitos que as pessoas! Mas porque é que esses inquisidores não vão ao FESTIVAL DO CÃO, na China, para verem o que é o verdadeiro stress animal?
Devo ter feito um focinho de tal estranheza porque não me foi necessário pedir esclarecimento, ele avançou com a explicação:
- James, na China está a acontecer neste preciso momento um Festival em que são mortos e cozinhados cerca de 10 000 amigos teus, bastantes são vadios mas muitos deles são roubados aos donos. Antes de serem assados ou esquartejados grande parte é torturada, aparentemente para a carne ficar mais macia....
Devo ter feito expressão de horror porque o J.C sentiu necessidade de me acalmar e, fazendo-me uma festa no pescoço, acrescentou:
- Calma, bicho! A China fica lá muito longe e eu nunca permitiria que fosses a um festival desses....
E então, amigos caninos, fez-se luz na minha cabeça e com um grande estrondo acordei para a realidade: parece-me evidente que estes festivais gastronómicos são uma vingança dos Chineses (esses habitantes de um país que deveria chamar-se antes Inferno Canino) contra nós que, embora involuntariamente, estamos a ameaçar as festas e os fogos de artifício e a questão torna-se mais preocupante porque já imagino os ingleses a votarem a favor e então, aquilo que parecia acontecer lá muito longe, quase noutro mundo, está perto de nos bater à porta... Quem me garante que um dia destes aqui em Verde Erva Sobre o Mar, depois de proibidos os fogos festivos, não surgem mais festivais do cão?
E pronto, já estalam os foguetes da festa e despeço-me com um apelo: façam um esforço para tolerar as festividades humanas, não stressem demasiado e convençam os vossos donos a não entrarem nestas exageradas e ridículas exigências, senão corremos o risco de ir parar ao espeto um dia destes...
(Cão de Valmedo)
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